31 janeiro, 2006

 

101. Histórias da Política nos Forcalhos - II

"La Chiflanópolis de Forcalhos o Ventosa Forcalhense"

No post n.º99 falou-se do Professor Velho (João Martins Carlos) e do ti Botas. O Ti Botas, segundo me contaram, foi compadre de meu bisavô Albino Jorge que, como a quase totalidade dos homens de então, era analfabeto. Meu bisavô faleceu há mais de 60 anos, com mais de oitenta de idade, e tinha a qualidade de ser muito inteligente. Do que pude apurar, não gostava de politiquices... mas o compadre, em determinada altura, lá o convenceu a colocar-se ao lado dele e contra o Professor, numa curiosa polémica sobre a construção da escola, que uns construíam de dia e outros destruíam de noite... e efectivamente não foi edificada onde o professor queria. Havemos de ver... pois é um caso interessante.
Meu bisavô que, apesar de tudo, era bem educado, um dia cruzou-se com o Professor e “deu-lhe a salvação”, isto é, deve ter-lhe dito: “Bom dia”, “Boa tarde”, “Deus o salve”, Passe com Deus”, “Deus nos dê boas tardes” ou coisa parecida, como se usava na altura e local. O professor, de quem seria esperar uma certa urbanidade, respondeu-lhe..... com um sonoro peido.



- A sonoridade da bufa. Imagem retirada da capa do livro “La Chiflanópolis de Ciudad-Rodrigo o Ventosa Mirobrigense” por Lorenzo Cid Bravo “El Cura Cid”, de 1876 reeditado em 1997. O autor era mesmo um padre suis generis.





Passados anos, o meu bisavô, referindo-se ao caso, dizia: “Ainda tenho o cheiro no nariz!”
Claro que não tinha nada o cheiro no nariz. Mas, convenhamos, foi uma linda forma, diríamos quase “literária”, de um analfabeto expressar a ideia de que, apesar do decurso do tempo, não tinha olvidado a ofensa, não tinha esquecido o agravo.

OJ

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29 janeiro, 2006

 

100. Neve aos 100

Degrau a degrau alcançamos o post número 100. E nesta efeméride o país é brindado com neve. Os Forcalhos, como não poderia deixar de ser, vestiu-se de branco.
De forma inesperada também caiu neve mesmo em zonas não habituais como o Alentejo. A A1 teve de ser cortada entre Pombal e Santarém e a meio da tarde desde Leiria, sendo o trânsito desviado para a A8 o que embaraçou o transito em redor desta cidade.
Em Leiria é raríssimo nevar e quando tal acontece é de forma muito tímida e de parca duração. Hoje não foi assim. Nevou intensamente e durante horas. Em alguns sítios mais altos chegou a coalhar. Acrescento algumas fotos.




















- As serras à volta de Leiria encheram-se de branco. E lembrar que, onde se vê o branco, ainda não há muito era floresta que o fogo consumiu.


OJ

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27 janeiro, 2006

 

99. Histórias da Política nos Forcalhos - I

Felizmente conserva-se na Junta de Freguesia um livro onde se exararam actas da Junta de Paróquia (inicialmente) e Junta de Freguesia (depois), com início em1899.
Encontramos nessas actas alguns passos com piada.
Eis um exemplo retirado de uma acta 27 de Janeiro de 1902, sendo a Junta de Paróquia presidida pelo Padre João Martins Nabais e constituída ainda por José Fernandes, Vicente Jorge e João Martins Carlos (este, o primeiro professor do ensino primário nos Forcalhos):
Para não alongar, ultrapassamos o que consta da acta de 13 de Janeiro e passamos só a parte da acta do dia 27:

“Nesta compareceu António Teixeira Botas, vice presidente da junta na gerência anterior, para o que tinha sido previamente convidado como consta na acta anterior, e sendo convidado pelo presidente para prestar contas à nova junta de quanto a esta pertencia visto ele ser o encarregado de tudo, bem como a entregar-lhe a chave da casa propriedade da paróquia, a fim de na mesma se instalarem as sessões da mesma, declarou que não prestava contas nem entregava a chave, isto em termos desagradáveis e desordenados. Pelo presidente foi convidado a entrar na ordem e continuou dizendo em altas vozes que não prestava contas nem entregava a chave da casa e que recorressem pelas vias que quisessem.”











A nova Junta resolveu o problema de forma inteligente: rebentou com a fechadura.
Bom… o ti Botas, que chegámos a conhecer, era natural de Aldeia da Ponte, tinha sido guarda fiscal e depois comerciante nos Forcalhos onde se fixou e casou. Era honesto e bom homem. Só que… na política, ele e o professor não se podiam ver, estavam em campos opostos… daí a teimosia…

CHGJ

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24 janeiro, 2006

 

98. A relíquia

Tenho em mãos uma preciosidade sobre a qual nestes últimos tempos tenho trabalhado. Esta relíquia consta de um conjunto de filmes. Filmes à séria, de rolo, como nos cinemas, colocados em bobines. Foram realizados nos Forcalhos na sua maioria em 1976 (Maio e Agosto) e uma parte menor em 1982 (Agosto). Já é a cores, embora mudo. Creio que estas serão as mais antigas dos Forcalhos, depois das filmagens realizadas pelos alemães, Instituto do Filme Científico, de Gotting, em colaboração com o Centro de Estudos de Etnologia, de Lisboa, (a preto e branco) em 1970. Este filme de 1970 pode ser adquirido através de encomenda nesta página alemã AQUI.



- A bobine totalmente preenchida e deitada corresponde ao ano de 1976. A bobine ao alto é de 1982.






A filmagem é amadora e num grau familiar. Mas, apesar disso, nota-se que houve intenção do Dr. Carlos Jorge (quem filmou) de captar cenas e quadros de uma época que então já estava a desaparecer e hoje já não existe.
Na altura não havia o VHS e muito menos DVD. A forma de fixar imagens animadas, a nível familiar, era o filme 8mm ou super 8. Compravam-se rolos de 4 metros e poupava-se nas filmagens porque o rolo era caro e tinha de ser revelado no estrangeiro, neste caso em Espanha, ao que parece em Madrid.
Estes filmes serviram para, quando eu e os meus irmãos éramos garotos, meu pai nos distrair passando os filmes. O que acontecia muitas vezes era que em determinadas alturas nós pedíamos para inverter a rodagem do filme e riamos a bandeiras despregadas ao ver a nossa avó e outros aos pulos a andar ao contrário (para trás).
A fita encontra-se bastante queimada de tanto ser passada na altura, estando um tanto descolorida e a nitidez fica muito a desejar. Contudo, hoje constitui uma relíquia da qual digitalizei muitas partes aumentando assim o banco de imagens históricas sobre os Forcalhos. E nesta análise aos fotogramas tenho desvendado pormenores curiosos, e trazido à luz, que nem um arqueólogo, recordações e memórias perdidas no tempo.
Numa forma de partilhar esse manancial de informações e descobertas irei publicar alguns post´s sobre estes filmes. Será também intenção, lá mais para a frente, disponibilizar alguns trechos de filme no blog.
Por agora e como amostra ilustrativa ficam estas imagens.















- Na esquerda: Fotograma do filme mostrando as eiras em 1976. Para a esquerda é o caminho para Aldeia Velha e para a direita o caminho para Aldeia da Ponte. Como pormenor verifica-se que o indivíduo montado no burro leva um arado (de burros) às costas.
- Na direita: Foto tirada sensivelmente no mesmo local, actualmente.
















- Esquerda: Fotograma do interior arruinado da ermida de N.S. da Consolação. A ermida foi recuperada, em grande parte, recentemente.
- Direita: Fotograma mostrando as sepulturas antropomórficas das Sarzedas.


















- Fotograma da capeia dos Forcalhos em Agosto de 1976.

OJ

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23 janeiro, 2006

 

97. Eleições Presidenciais 2006










Palácio de Belém. Imagem tirada de AQUI

Chegaram ao fim as eleições presidenciais 2006 de que saíu vitorioso o candidato Aníbal Cavaco Silva.


Nos Forcalhos as votações foram as seguintes (Dados retirados do STAPE -Secretariado Técnico dos Assuntos para o Processo Eleitoral - Ministério da Administração Interna AQUI):

Inscritos __ 157
Votantes ___ 69 ___ 43,95%
Brancos _____ 1 ___ 1,45%
Nulos _______1 ___ 1,45%

Candidato _________ Votos _____ %
CAVACO SILVA _______ 55 _____ 82,09
MANUEL ALEGRE ______ 7 _____ 10,45
MÁRIO SOARES _______ 5 ______ 7,46
GARCIA PEREIRA ______ 0 ______ 0,00
FRANCISCO LOUÇÃ _____ 0 ______ 0,00
JERÓNIMO SOUSA ______ 0______ 0,00
(PERC. CALCULADA SOBRE VOTOS VALIDAMENTE EXPRESSOS (BRANCOS E NULOS EXCLUIDOS)


E olhando para a nossa envolvência acrescento as votações das aldeias que fazem fronteira com a nossa freguesia.

Aldeia da Ponte:

Inscritos __ 362
Votantes __ 211 ___ 58,29%
Brancos ____ 0 ____ 0,00%
Nulos ______ 3 ____ 1,42%

Candidato __________ Votos _____ %
CAVACO SILVA ______ 130 ______ 62,50
MANUEL ALEGRE _____ 36 ______ 17,31
MÁRIO SOARES _______ 31 ______ 14,90
FRANCISCO LOUÇÃ ____ 4 _______ 1,92
JERÓNIMO SOUSA _____ 4 _______ 1,92
GARCIA PEREIRA ______ 3 _______ 1,44
(PERC. CALCULADA SOBRE VOTOS VALIDAMENTE EXPRESSOS (BRANCOS E NULOS EXCLUIDOS)


Aldeia Velha:

Inscritos ___ 499
Votantes ___ 291 ___ 58,32%
Brancos _____ 3 _____ 1,03%
Nulos ______ 13 _____ 4,47%

Candidato ___________ Votos _____ %
CAVACO SILVA ________ 222 _____ 80,73
MANUEL ALEGRE _______ 30 _____ 10,91
MÁRIO SOARES _________ 15 ______ 5,45
FRANCISCO LOUÇÃ _______ 5 ______ 1,82
JERÓNIMO SOUSA ________ 2 ______ 0,73
GARCIA PEREIRA _________ 1 ______ 0,36
(PERC. CALCULADA SOBRE VOTOS VALIDAMENTE EXPRESSOS (BRANCOS E NULOS EXCLUIDOS)


Lageosa:

Inscritos ___ 250
Votantes ___ 133 ___ 53,20%
Brancos _____ 3 ____ 2,26%
Nulos _______ 2 ____ 1,50%

Candidato ___________ Votos _____ %
CAVACO SILVA ________ 81 _____ 63,28
MANUEL ALEGRE ______ 18 _____ 14,06
MÁRIO SOARES ________ 17 _____ 13,28
FRANCISCO LOUÇÃ ______ 7 ______ 5,47
JERÓNIMO SOUSA _______ 4 ______ 3,13
GARCIA PEREIRA ________ 1 ______ 0,78

(PERC. CALCULADA SOBRE VOTOS VALIDAMENTE EXPRESSOS (BRANCOS E NULOS EXCLUIDOS)


Para uma consulta sobre o concelho do Sabugal também podemos aceder AQUI no site da Câmara do Sabugal.
Mais informações sobre as eleições AQUI.
Para consulta das votações, STAPE -Secretariado Técnico dos Assuntos para o Processo Eleitoral - Ministério da Administração Interna AQUI.

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19 janeiro, 2006

 

96. Airbag anti-touro

Para a capeia ainda falta bastante tempo, mas esta é preparada com muita antecipação. É por isso que avançamos já com a publicação deste artigo.
As capeias, em si, trazem riscos e perigos sendo que quase todos os anos há feridos numa ou outra aldeia. A gravidade pode deixar marcas para ou resto da vida quando não a tira.
De uma forma geral os touros não são embolados e a selecção dos animais cada vez é mais exigente aumentando, desta forma, toda a perigosidade da festa.
Para evitar acidentes apresentamos a ultima novidade em airbags: O arbag anti-marrada.
Podem verificar a demonstração clicando na imagem seguinte para abrir o filme.

O filme com o airbag anti-touro.

- Clique na imagem para visualizar o filme com a demonstração do airbag anti-marrada (do GoogleVideo).

Depois desta demonstração há que incentivar o seu uso (será que o estado dará algum apoio na aquisição deste equipamento de segurança?).
E para verificarem a necessidade extrema deste equipamento juntamos mais um pequeno vídeo. Clique na imagem abaixo. Se o indivíduo usasse este equipamento era seguro que não passava por estas tristes figuras.

O filme sem o airbag anti-touro.

- Clique na imagem para visualizar o filme sem airbag anti-marrada (do GoogleVideo).

OJ

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17 janeiro, 2006

 

95. Arquivo JNF - Há 20 anos

Colchão ortopédico

O nosso jornalzinho está recheado de pequenas histórias pessoais muito curiosas. Esta é mais uma. Ilustra bem o bom relacionamento com as aldeias vizinhas, neste caso particular com Aldeia Velha. Recordo que, sendo as festas da Aldeia Velha no fim-de-semana a seguir às dos Forcalhos, era, muitas vezes, nestas festas que me despedia destas terras que amamos.
Transcrevemos o artigo escrito por António Alves Martins no jornal número 6 de Julho de 1986:

"Peripécias da Juventude

Como era habito, nós, os que não morávamos nos ForcaIhos, juntávamo-nos no verão, por muitos dias, com os que lá faziam pela vida, e lá fazíamos as nossas farras, assim como as fazíamos também nas terras vizinhas, como é o caso desta história.
Uma ocasião, num dia 29 de Setembro dum ano que não me lembro, fui eu com meus primos e amigos inseparáveis, Daniel Paulo e o saudoso Orlindo Charro, em direcção a Aldeia Velha, a fim de nos divertirmos um pouco no baile, pois como se sabe era lá o dia da festa. Claro que nos juntamos lá a outros forcalhenses e fomos até às tantas da manhã. Como isto já estava previsto e queríamos assistir a capeia do dia seguinte, durante a tarde marcámos lugares na pensão palheiro que o Sr. Germano nos facultou com cobertores e tudo.
Por volta das 3h da manha lá nos arrumámos conforme pudemos, seríamos talvez uns sete ou oito, dormimos menos mal e por volta das 10h a malta começou a despertar e quase todos se queixavam dos ossos, pois que o colchão era demasiado duro. Disse quase todos porque eu era a excepção, pois não me queixei da dureza da cama, achei até que tinha dormido confortavelmente.
Quando me pus de pé foi achada a razão do meu conforto: eu tinha dormido em cima duma bosta e como tinha a camisa vestida... pôs-se o problema como é que eu me apresentava à sociedade. Então um dos do grupo foi a casa do Sr. Germano e a filha deste, a Lucinda recordam-se?, emprestou uma camisa dum dos irmãos, hoje meus colegas de empresa, e fez o favor de lavar a minha e assim se resolveu o problema. […] "





- Excremento de animal.






Com este testemunho aqui fica uma possível solução para quem sofrer de dores de costas.

OJ

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14 janeiro, 2006

 

94. Tabaco, Secretas e manhas

O hábito de fumar, como tudo, vai evoluindo. Antigamente os fumadores compravam um livro de mortalhas, uma onça de tabaco e faziam eles o seu próprio cigarro.
O fazer do cigarro tinha o seu ritual. Uns faziam-no colocando na mortalha o tabaco que saia directamente da embalagem de origem. Há quem recorde as onças do «Duque». Outros, porém, metiam o tabaco numa espécie de bolsa de cabedal a que chamavam «pataca» de onde o tiravam batendo com o indicador para ele ir caindo.
Havia quem o metesse em folhas de couve para o conservar mais fresco. Alguns fumadores desfaziam a ponta do cigarro queimado (pirisca) para aproveitar o tabaco ao fazer do novo cigarro.
Depois de estendida a quantidade suficiente de tabaco na mortalha, enrolava-se a maior parte desta, passava-se a língua a todo o comprimento da ponta livre para a humedecer e colar ao enrolar completamente.

Para acender, tínhamos os fósforos portugueses, as “cerilhas” espanholas (fósforos que em vez de madeira tinham papel enrolado com cera), isqueiros com várias formas e feitios, com “morrão”, petróleo ou gasolina. Recorria-se ainda a um sistema mais artesanal: bastava o morrão, um seixo e um objecto de aço (costas de faca, navalha, foice, etc.). Colocava-se o morrão encostado ao seixo, percutia-se neste o objecto de aço, de forma que as “tchispas” fossem parar ao morrão e... pronto! Com o morrão acendia-se o cigarro. O morrão era um cordão que se adquiria na Espanha e que vemos enfiado nos isqueiros das fotos.



- Isqueiros com respectivo morrão.
O da esquerda mais singelo e o da direita de alguém, talvez, com mais posses.




Com o tempo, os cigarros já feitos foram dominando o mercado. Quem se lembra dos «Provisórios» e dos «Definitivos»?
No meio de tudo isto aconteceu uma coisa interessante ou talvez muito pouco interessante para os nossos conterrâneos. Estávamos na fronteira e o tabaco espanhol era mais barato embora de inferior qualidade. E, como preço é factor de peso, consumia-se muito tabaco espanhol. Por isso, de quando em vez, aparecia uma espécie de polícia à paisana (não fardados, à civil), encarregada de proteger o monopólio da Tabaqueira e de multar os prevaricadores. Não sei qual seria o nome desses agentes de fiscalização que entre nós só eram conhecidos pelo nome de «secretas». O pessoal odiava-os.
Quando, inesperadamente, davam volta à “folha” (campo), lá caçavam um ou outro mais desprevenido a fumar o seu cigarrito espanhol e (claro!) multavam-no. Só que, depois de se afastarem o suficiente, ouvia-se um grito:
- «Os do cu roto»!
Este grito ecoava e era retransmitido, por outros que o ouviam, de folha em folha. A partir de então já muito dificilmente apanhariam mais alguém.
Mas conta-se que alguns dos nossos conterrâneos deixavam aproximar os secretas, continuavam a fumar e... quando eles estavam mesmo perto... comiam a pirisca. Assim desaparecia o corpo de delito. Ouvi dizer que o ti Soia lhes pregara esta partida.


- Como se acende este esqueiro: Coloca-se o morrão encostado à cabeça rotativa do isqueiro percuntindo de forma que as “tchispas” cheguem ao morrão, acendendo-o e com este o cigarro. Este isqueiro não tinha gás. As "tchispas" eram provocadas pela roda ao passar pela "pedra" introduzida no isqueiro.


Quando se casou o ti António Ferreira, pai do ti Belmiro, “deitaram-se” cá (atacaram) aos secretas e eles tiveram de se refugiar no quartel da Guarda Fiscal. No meio da balbúrdia, partiram, com uma arma, uma perna ao ti Nadino. Por via disso estiveram uns tempos sem vir aos Forcalhos. Mas, obviamente, a questão deu em «justiça». Em consequência, o síndico (ou lá o que era) veio cá ouvir diversas pessoas. Interrogava ele, na presença do Professor Velho, o ti Vicente Jorge. Este na resposta contava que
«... íamos para casa da nôbia...»
O homem que conduzia o interrogatório não percebeu o que era isso de nôbia. O professor interveio para o esclarecer de que a nôbia era a noiva. O ti Vicente Jorge ouviu a explicação mas houve por bem acrescentar:
- «Nós cá é nôbia!»
Este dito ficou célebre e era lembrado e repetido quando alguém quisesse criticar ou corrigir alguma expressão ou costume.

Consta-me que nos Fóios também chegaram a correr os “secretas”.
Uma manhã apanharam, para o Valongo, o ti Zé Nunes e já o levavam preso. Nisto começaram a ouvir-se os sinos que tocavam para um casamento. Não sabendo do que se tratava e receando que fosse por causa do serviço que efectuavam, os secretas deixaram o nosso homem em paz e foram-se embora.

Todos conhecíamos fumadores inveterados. Um deles era o ti Barroco (pai do Joaquim, também já falecido) que vivia numa casa térrea na Rua da Quinta. A mulher, às tantas, resmungava e amaldiçoava o tabaco. Ele desculpava-se: - «Ó mulher, que é que queres? Eu lá faço os cigarros bem grossos a ver se acabo com ele!...» Mas havemos de falar mais do ti Barroco.

CHGJ

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13 janeiro, 2006

 

93. Diversidade de potros

Mais uma vez escrevo sobre potros (a que também chamam, com frequência, tronco), embora desta, não sobre o dos Forcalhos.
Aconteceu que quando escrevi o post 78. Património da nossa terra – “Potro” alusivo ao potro dos Forcalhos, fiz, por curiosidade, uma pequena busca na Internet sobre o instrumento. Deparei-me com uma abundante variedade construtiva. Também me surpreendeu o facto de, em grande percentagem, serem páginas espanholas embora, é certo, dando-lhes o mesmo nome.
Para perceber melhor o funcionamento deste instrumento começamos com um conjunto de imagens mostrando como o animal fica preso permitindo, de forma segura, ferrá-lo ou tratá-lo. Neste caso é utilizado um instrumento mais complexo e actual, embora com o mesmo fim.







- Imagens retiradas da página brasileira “Portal TechnoVet Medicina Veterinária”, que tem desenvolvido uma série de imagens relativas à ferragem e cura das vacas. Aconselho uma visita.
1 – O potro que na dita página chamam de tronco “casqueador”.
2- A vaca, presa de movimentos.
3- Pormenor mostrando como, de forma segura, se tem acesso aos cascos do animal para ferrar ou tratar.


Depois desta básica elucidação segue uma amostra da variedade de potros. É uma apresentação livre, sem grande aprofundamento e com uma classificação muito simplista. São praticamente todos espanhóis.

Potros de seis ou mais lajes na vertical:









4 - Potro de El Boalo, povoação espanhola. Imagem retirada do Blog Sierra Madrid que contém um artigo correspondente.
5 - Imagem da página
Vioneto. Também de Espanha (Segóvia?).


Potros de quatro lajes verticais:








6 - Do site Ministerio de Educación y Ciencia. Potro de herrar en Bermillo, Zamora, Castilla y León.
7 - Na morada
Cuaderno Ð Madrona é a imagem correspondente, pretencente à localidade de Torredondo.
8 - Potro de
Cobos de Segóvia.









9 - Em pueblos-espana podemos observar o de Paredes de Buitrago (Madrid).
10 - Potro de
Navarredondilla (Ávila).
11 - Imagem retirada de
Los Hijos del Cura com o potro localizado em Santa María del Berrocal.


Potros de lajes com cobertura:












12 - Imagem do site SierraNorte. Potro de Garganta de los Montes (Madrid).
13 - Também de Garganta de los Montes, mas da página
Lanajarra.


Potros de madeira:









14 - Potro em Villager de Laciana na página Laciana... mi valle.
15 - Potro de
Susañe del Sil (Léon).


Potros de Madeira com cobertura:









16 - Na página El Lebaniegu encontramos o potro de Bodia (Cantabria).
17 - Em
Puentedey.
18 - Imagem do site
Mesón - Restaurante El Molino com o potro de Vilviestre del Pinar (Burgos).











19 - Em Pereda (Burgos).
20 - De
Santa Olaja de la Varga (León).


Potro metálico:










21 - Do site Lomba na rede. É o único deste post que é português, da terra da Lomba (Sabugal).


Potro de construção mais complexa e actual:











22 - Tirado da página Viarural (Argentina).



Sobre este tema ainda há muito mais para dizer. Tenho intenção, mais lá para a frente, de escrever um post similar a este, mas versando sobre potros em Portugal, com incidência na região da Beira. Será um post trabalhoso porque me obrigará a algumas deslocações e a alguma investigação (contudo não é para escrever nenhum livro, só um post). Por isso, desde já, solicitava aos leitores que, dentro das possibilidades, se as vossas terras, ou lugares por onde passam, têm potros me fizessem chegar alguma informação e/ou fotografia através do mail noticiasdosforcalhos@gmail.com

OJ

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10 janeiro, 2006

 

92. Homenagem à Galharda e à Quina

Era duro, noutros tempos, o trabalho no campo. Apesar de tudo, nas sachas e nas regas, era frequente ouvir as moças, sozinhas ou em ranchos, cantar durante o trabalho, ou pelos caminhos, no regresso da labuta diária. Como ouvi a um velhote: - Quando éramos moços andávamos um dia inteiro a malhar, à noite íamos passar uma carga de contrabando e no domingo seguinte tínhamos força para andar aos pulos no baile.
Os próprios animais participavam no esforço das famílias para sobreviverem. Especialmente as vacas, para puxar ao carro ou para andar a lavrar dias inteiros, com o dono respectivo, rego abaixo rego acima. E ainda davam o leite, as crias, o estrume….
Esta quase, diríamos, “comunhão” fazia com que as pessoas se afeiçoassem aos animais e vice-versa.
E entram aqui duas vacas: a Galharda e a Quina.

















- Nestas fotos, tiradas de um filme familiar de 8 mm ou super 8, por voltas de 1977, época de transição em que já não aparecem vacas castanhas mas vacas de pelagem negra, leiteiras, menos aptas para o trabalho, que diminuía pouco a pouco, com o abandono do campo e a emigração para França.
Embora se não vejam nelas a Galharda e a Quina, que na altura já não existiam, servem estas como ilustração nesta homenagem. Aparece, contudo, o dono, Orlindo Jorge, que além da agricultura se dedicava ao comércio de produtos agrícolas.


As duas nasceram e foram criadas em casa de meus pais e compunham a junta que eu conheci, de pequeno, até perto da época em que saí de casa para ir estudar.
A Galharda era uma vaca linda, valente e muito mansa. Pendurava-me no pescoço dela, agarrava-a pelos cornos, fazia-lhe festas na testa e na barbela, e ela tudo suportava com paciência. Era contudo muito voluntariosa. Quando saía com as outras, ela ia sempre à frente. Não tolerava que fosse de outra maneira. Não era “bulhenta”. Ao cruzar-se com outras não “se pegava” com elas… mas se alguma lhe fizesse “carranca” e se dirigisse para ela, em ar de desafio e com ela cruzasse os cornos… já se sabia que era ela a vencedora e que fazia a outra recuar. Uma vez empurrou uma outra de tal forma que a levou contra uma parede de pedra solta que foi derrubada.
A puxar o carro, tinha força e às vezes, com outras… lá ia a “meia correia” para ela suportar a maior parte do peso.
Esteve muitos anos em casa de meu pai, até ser velha. Meu pai começou a dizer que tinha de se vender… dizia…. mas tinha de se decidir…. o que lhe custava... o que nos custava a todos….
Até que um dia… lá foi para o mercado de Alfaiates. Recordo minha mãe à sacada, cheia de pena, a ver partir a vaca…

Com a Galharda aparelhava a “Quina”. Também esta nasceu, cresceu e “foi ensinada” em casa de meu pai. Começou por ser conhecida por “Pequena” o que se abreviou para “Quena” e depois deu “Quina”. Também era uma bela vaca… mas ficava muitos furos abaixo da Galharda, a quem obedecia. Bem servida de chaves, abertas e equilibradas. A cor de um castanho mais claro que o da Galharda.
As duas vacas faziam uma das melhores senão a melhor junta do povo. E digo isto porque o ouvi a estranhos.
Também a Quina, ao fim de bastantes anos, foi vendida mas ficou na terra, nos Forcalhos. Como viveu muitos anos em casa do meu pai, de início fugia de casa do novo dono para a nossa…. E não vou contar o que acontecia… Meu pai jurou que nunca mais venderia uma vaca para os Forcalhos.
Um dia, fui aos Forcalhos de férias. Estava com meu pai que viu que a Quina ia com o novo dono pelo caminho de Aldeia adiante. Nós estávamos distantes. Diz-me meu pai:
- Queres ver uma coisa?
Assobiou… e a vaca, que ia distante, mas conhecia o assobio, começou a mugir, a mugir….

O que aconteceu connosco não era caso raro. Recordo-me de ouvir contar que tinha havido lágrimas na despedida de uma vaca do ti João “Aires”, quando, por velhice, foi levada para o mercado.

Aqui fica a minha homenagem à Galharda e à Quina que durante muitos anos serviram em casa de meus pais.

CHGJ

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08 janeiro, 2006

 

91. Chupas e Morrão

O antitabagismo tem estado na ordem do dia, sobretudo por causa da lei aprovada, recentemente, em Espanha, acerca desta matéria. E como somos um país vizinho não ficámos alheios à intransigente lei espanhola e o debate trespassou para o lado de cá.
São vários os meios de comunicação que versam sobre o assunto (por exemplo: D.N. , Correio da Manhã, Jornal de Leiria, TVI, Portugal Diário ).















Vem isto a propósito porque à saída da povoação dos Forcalhos, na estrada para Aldeia da Ponte, deparámos com a placa acima publicada tendo as seguintes palavras evidenciadas: Chupas e Morrão.
Se entendermos o chupar como o acto de fumar e o morrão como a ponta queimada do cigarro talvez esta seja uma das placas que os antitabagistas queiram censurar. E atendendo aos vários componentes nocivos que constituem o cigarro a empresa em questão também poderá ser incriminada por valores excessivos de alcatrão.

Contudo hà que afirmar que a estrada dos Forcalhos para a Aldeia da Ponte está boa, com tapete novo que já há muito era necessário, obra a cargo desta empresa “tabagista”.

OJ

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06 janeiro, 2006

 

90. Reis e as Janeiras






- "Adoração dos Reis Magos", retábulo da Sé de Viseu, oficina de Vasco Fernandes/Grão Vasco (1501-1506).









Com o decorrer do tempo e por variadas razões a Igreja diminuiu o numero de “dias santos de guarda”. Estes dias, para além da festa religiosa, constituíam ao longo do ano uma espécie de férias, de dias de descanso e lazer, pois neles estavam proibidos os trabalhos serviçais.
Alguns destes dias balizavam o cumprimento de obrigações e o início e termo de contractos vários.
Só um exemplo colhido de folhas 576 e 576 v.º do Livro 278, Núcleo Antigo, do Arquivo da Torre do Tombo: o Padre Baltazar Fernandes (que jaz na nossa capela da Consolação) em 1593 declarou pagar de foro duas galinhas aos alcaides mores da vila do Sabugal, por dia de S. Miguel, em Setembro de cada ano.
Vem isto a propósito da festa dos Reis que tem vindo a perder importância entre nós. Da mesma forma as janeiras. Por todo o país se cantavam as janeiras. Nos Forcalhos, uma das últimas manifestações terá ocorrido há perto de uns 60 anos, comigo e malta contemporânea. Garotos, resolvemos ir pedir as janeiras, mas já sem cantigas nem lengalengas. Lá conseguimos umas farinheiras e morcelas… sim, só isto, porque enchidos nobres (chouriças ou chouriços) não eram para garotos se divertirem.
Com elas e com uns ovos, não sei se dados se surripiados, fomos fazer a borga para uma casa da rua do Corro, julgo que nela teria vivido uma tê Clara.
Lá cozinhámos as coisas à nossa maneira e colocámos o cozinhado num recipiente qualquer.
Deu-se o sinal de ataque… e foram garfos e mãos simultaneamente… sem acidentes (um milagre!) e tudo desapareceu num instante, sem que ninguém tivesse comido coisa que se visse!


Normalmente é a partir desta data que se retiram as decorações do natal, desmonta-se o presépio e a árvore de natal. Como tal, nós aproveitámos o dia e retirámos já os “enfeites” natalícios, voltando o rosto a apresentar a sua imagem normalizada.









CHGJ

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89. Praça de Touros da Aldeia da Ponte entre estádios

Os motores de busca na Internet por vezes criam uma situação engraçada. Fazemos uma procura sobre um determinado assunto de nosso interesse e como resultado vão surgindo os mais variados link´s, muitos sem qualquer ligação ao assunto em questão.
O curioso é verificar que acabamos por cruzar com outros temas que também nos interessam e bastante desenvolvidos, e por aí nos perdemos. Frustrante é que, sobre o tema que procurámos, muitas vezes nada de relevo surge.
Pois, foi assim que entrei num site internacional bastante interessante que contém estádios, pavilhões, recintos desportivos, pistas, …, de todo o mundo. Podem aceder AQUI. Está bastante interessante.
Verifiquei que um dos equipamentos também indicados era a praça de touros. Entrando em Lisboa lá está o Campo Pequeno. Por curiosidade não deixei de entrar no distrito da Guarda. E nos equipamentos indicados lá estava a praça de touros da Aldeia da Ponte, com o respectivo ano de inauguração e capacidade. Só falta mesmo a foto.
Sem dúvida que é uma praça majestosa e com o encanto próximo de uma fortificação, com as suas sólidas paredes de pedra.
Na falta de uma foto do exterior apresento uma do interior, numa pega efectuada pelo grupo dos Forcalhos, no concurso ao forcão em 2002.














OJ

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04 janeiro, 2006

 

88. O talefe na Cabeçalta





- Talefe da Cabeçalta. Ao fundo avista-se a aldeia dos Forcalhos.









Entre nós, forcalhenses e nas aldeias vizinhas, os marcos geodésicos são conhecidos por “talefes”.
Nos limites dos Forcalhos situa-se apenas um: o do Monte Calvo. Nas proximidades há mais dois: um para os lados do Fornito, junto à raia; o outro fica à Cabeçalta, ao lado da Estrada dos Forcalhos para o Plicantão (cruzamento das estradas dos Forcalhos, Lageosa, Aldeia do Bispo e Aldeia Velha).
Desta vez incluímos uma fotografia do talefe da Cabeçalta. Vale a pena parar ali, quando passamos na estrada. Descortina-se uma ampla e bela paisagem.










- Algumas vistas tiradas do talefe da Cabeçalta:
Esquerda - Para Sul temos o vale da Aldeia Velha cercado por montes. O primeiro dos três montes visíveis corresponde ao Sabugal Velho, famoso pelas ruínas arqueológicas e pela capela de N. S. dos prazeres e de onde também se captam belas e extensas paisagens.
Centro - Na linha do horizonte, bem no alto da ténue serra que se vislumbra, a cidade da Guarda.
Esquerda - Mais para norte observamos a Aldeia da Ponte.


Aproveitamos para lembrar um fenómeno que ocorria neste local há cerca de uma meia dúzia de anos.
Começavam, então, a disseminar-se os telemóveis, mas os operadores ainda não cobriam adequadamente o território nacional. Acontecia, nesses anos, que nos Forcalhos, os telemóveis não funcionavam por não terem “rede”. Porém, junto ao talefe da Cabeçalta, ponto muito mais alto, os telemóveis já “apanhavam rede” embora com dificuldade e funcionavam.




- "A central telefónica" (montagem).






Nessa altura era curioso ver, mais nas férias do Verão, muitas pessoas virem até ao talefe para falarem ao telemóvel, com familiares e amigos, e andarem de mão no ar às voltas à procura do melhor sítio para captar a dita rede e começarem a falar. Havia quem na terra brincasse chamando ao talefe central telefónica.

CHGJ

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02 janeiro, 2006

 

87. Rescaldo










Depois das festas fica o rescaldo. Impõe-se o regresso ao quotidiano, sendo o de muitos longe do resguardo de tão amada terra, mas com a alma repleta de emoções para saborear ao longo destes tempos próximos ou até à possibilidade de outro encontro com a terra em mais uma festividade.

Entramos em 2006 deixando um ano para trás. Como blog ainda somos como uma criança, com falhas e desacertos próprios da idade, tendo ainda somente meio ano de existência. Por isso será escusado fazer já um balanço, a idade a isso nos permite. Apenas acrescentamos que temos sentido o carinho e a atenção de todos, tanto nas observações que nos chegam pessoalmente, ou através das ferramentas do blog, como pelo apoio directo e indirecto.

Continuamos com a intenção de dar a conhecer a nossa amada terra, Forcalhos, e sua envolvencia possibilitando a todos sentir um pouco da magia e encanto deste pedaço abençoado do nosso Portugal. Será um pequeno balão de oxigénio para matar as saudades, relembrar momentos e pedaços do passado, olhar o presente e os acontecimentos que vão surgindo com o aproximar do futuro.
Esperamos ser mais um factor de união, encontro e promoção. Que seja uma janela para que forcalhenses, amigos e encantados por esta região possam abrir e vislumbrar este paraíso.

OJ

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