19 dezembro, 2005

 

78. Património da nossa terra.

“Potro”



















Outrora era uma construção de uso comum e vulgar, existindo praticamente em todas as aldeias. Hoje não é mais que uma lembrança do passado, de uma época em que a forma de vida era completamente diferente da de agora. Já não tem uso. Contudo é em si um monumento que devemos preservar, evocativo de artes ancestrais.

Certamente muitos já não saberão qual a utilidade que tiveram estas estranhas pedras levantadas ao alto que nem os menires do Asterix. Comparando com os dias de hoje tinha quase o mesmo fim que uma pequena oficina onde levamos a viatura de trabalho para reparar ou mudar um pneu furado, verificar os travões, efectuar alguma manutenção….

Antigamente a grande força de trabalho era de animais. E estes, como as viaturas de trabalho de hoje em dia, também precisavam de manutenção. E era ao “potro” que se dirigiam com os animais para ferrar, curar….
Essencialmente o "potro" era só para as vacas por serem animais mais difíceis de segurar. A tipologia dos cascos destas também é diferente tendo as ferraduras um formato distinto das dos cavalos ou dos burros.




- Fotos de 1983.








E como funcionava o “potro”?
Colocavam o animal entre as duas fileiras de pedra. A cabeça era apertada com uma soga no madeiro que ficava entre as duas pedras da frente. Nas fotos de 1983 ainda é visível esse madeiro. Para tratar das patas de trás do animal enfiava-se uma tranca nos buracos das duas ultimas pedras. Passava-se uma soga pela tranca e por uma das patas. Puxava-se e apertava-se contra a tranca. Deste modo fica o animal preso de movimentos podendo-se trabalhar à vontade e em segurança. Para curar ou ferrar uma das patas da frente do animal dobrava-se a pata e prendia-se, com uma soga, sobre uma travessa existente entre a primeira e a segunda pedra, de cada lado.

O "potro" dos Forcalhos já esteve em diversos locais. Esteve na rua do cemitério junto à ponte que dá para o caminho das Sarzedas. Para a colocação do poste de transformação de alta tensão, aquando da electrificação da aldeia, foi retirado, para dar lugar a este. Esteve também ao lado da garagem da freguesia, onde hoje é a Associação, na rua que vai para a igreja. Fora arrancado quando melhoraram esta rua. Mas como o “potro” na altura ainda era necessário reconstruíram-no junto à ponte do caminho que vai para a Lageosa e onde ainda actualmente se encontra. Estas várias mudanças terão danificado as pedras que na origem parecem ter sido mais altas e perfeitas.



- Locais onde esteve o "potro".
Foto da direita: no local onde agora se encontra o poste de transformação de alta tensão.
Foto da direita: Esteve junto da garagem visivel no canto direito da foto e já demolida para construção da Associação. Foto tirada em 1984.






Este “potro” estava ao serviço do povo, a quem pertence, sendo por isso utilizado pela comunidade. Contudo também os havia particulares e desses temos conhecimento do “potro” do ti Barata, que era de madeira e servia para o exercício da sua profissão de ferreiro. Também existiram em tempos “potros” à Praça e no Terreiro da Fonte.





- O "potro" no estado actual.














- Em primeiro plano o "potro" e em segundo a ponte do caminho para a Lageosa.





Hoje em dia, como verificamos na foto, o “potro” está como que abandonado e passa despercebido. Saibamos conservar e proteger este património.
Como analogia recordo o que aconteceu com muitos pelourinhos por este país fora. Em determinada altura na nossa história deixaram de ter utilidade, e foi-lhes dado um significado negativo, sendo que muitos foram destruídos. Hoje as terras que os conservam fazem deles símbolo e cartaz turístico. As outras ou conseguiram recuperar as pedras, ou parte delas, e reconstruíram-nos ou, baseado em imagens antigas fizeram uma cópia. Não tenhamos nós, um dia mais tarde, ter que recorrer a uma cópia do nosso “potro” tendo ainda o original. É certo que o valor histórico entre o pelourinho e um “potro” é muito diferente e com significados e importâncias incomparáveis. Mas faz parte do nosso pequeno património e é parte integrante da história do nosso povo. E como exemplar único que nos ficou a sua salvaguarda é mais que justificada.



OJ

Post Scriptum: O post n.º59. Património da nossa terra – Igreja matriz foi modificado sendo que, essencialmente, foram substituídas algumas fotos por outras mais recentes.

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