30 junho, 2005

 

6.Tradições - II - O regresso da romaria de São Marcos


















Foto do caminho para a Consolação, depois da descida dos abrunheiros, vista no sentido Albergaria Forcalhos. Tirada em Setembro de 1982 e, por isso, numa altura da estação em que o regato se encontrava seco. Mas era este o local por onde as moças, no dia de São Marcos, se apressavam por passar antes que os jovens lá chegassem e as salpicassem. Atendendo que nessa altura a parte do caminho correspondente à sombra na foto estaria com água a travessia era feita pelas alpondras, as pedras alinhadas e encostadas à parede do lado direito.

OJ

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29 junho, 2005

 

5.Tradições - I - O regresso da romaria de São Marcos


Antes da ermida da Consolação cair em ruínas efectuava-se todos os anos, no dia 25 de Abril, a romaria de São Marcos. A romaria era concorrida não só pelos forcalhenses mas também pelas aldeias vizinhas, incluindo as espanholas. É no regresso desta romaria que acontece uma tradição, hoje diria mesmo esquecida, singular. O capitão Martins soube descreve-la de forma conseguida no seu romance "Drama sob as nuvens" e de onde transcrevo o seguinte excerto:

"A meio da tarde, as freguesias mais distantes iniciaram o regresso. A pouco e pouco se foram indo até que, por ultimo, só já se viam romeiros forcalhenses, de mistura com os poucos espanhóis [...]. Só quando o sol estava prestes a esconder-se no horizonte distante, é que aquela gente, exausta e satisfeita, se pôs a caminho da aldeia. As diversões continuaram durante o trajecto. Já nas proximidades de um regato que atravessava o caminho [...] as moças principiaram a esgueirar-se, a fim de fazerem a sua travessia antes que os moços ali chegassem. Não o conseguiram, porém, porque alguns deles, mais ágeis do que elas e com o firme propósito de manterem uma velha tradição, estavam já postados junto das primeiras alpondras para salpicar com água todas as que se atrevessem a passar. Havia então a crença de que S. Marcos daria por casamento a jovem que, no seu dia, primeiro fosse salpicada com água daquele regato, ao moço que tivesse a dita de o fazer em primeiro lugar."

O capitão Martins ironizando continuou:

"A umas centenas de metros mais acima e a igual distancia mais abaixo havia outras passagens por onde podiam enveredar. Porém parece que uma força oculta impelia aquelas jovens para o regato, principalmente aquelas que já sonhavam com afeição de alguém."



















- Cartoon de Sérgio José das Neves Vieira editado no jornal "Notícias dos Forcalhos" n.º43.

Hoje esta tradição já não existe e o regato em questão já nem se dá conta dele devido, em parte, à beneficiação dos caminhos.
OJ

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28 junho, 2005

 

4.Arquivo JNF - Há 20 anos

Do jornal n.º 3

Em Janeiro de 1985 era publicado o jornal n.º 3. De lá para cá cerca de 20 anos passaram. Tempo suficiente para uma mudança profunda nos nossos hábitos e costumes visiveis em pequenas coisas do nosso dia a dia como os telemóveis, hoje de uso corrente, e outrora quase impensáveis. Na nossa aldeia também muitas mudanças se foram operando quer a nível de infra-estruturas como na vivencia do quotidiano: A água canalizada chegou às casas acabando com a incómoda ida ao chafariz; os animais de lavoura foram desaparecendo e substituídos por maquinas agrícolas, sendo hoje muito raro ver um animal auxiliar na lavoura; os próprios campos cultivados foram desaparecendo modificando a paisagem envolvente....
Mas há 20 anos ainda havia animais a auxiliar os trabalhos e saía no jornal de 1985 um pequeno e engraçado artigo escrito por Luis Carlos P P Jorge, então com 12 anos, com o título: "Dos mais novos". Transcrevo:

Uma história verdadeira

Um dia de Inverno, perto do Natal, fui aos Forcalhos com o meu pai e por lá estive uma semana. Nessa altura fui com o meu avô, de burra, ao Cabeço Cutelo buscar giestas para queimar. Quando chegámos lá começamos a cortar as giestas e no fim de as cortar carregámos a carroça. Quando estava cheia, a burra não queria andar porque era a subir. De repente a carroça desengatou-se, alça-se e a burra foge. Tivemos uma data de trabalhos para apanhar a burra e atá-la de novo.
A seguir pudemos ter uma viagem para casa sem que a burra se desprendesse outra vez.
E assim se passou a história.

Esta história lembrou-me desta foto que circula pela net:



















É de dizer que a burra dos Forcalhos teve melhor sorte, pelo menos desengatou-se.....
OJ

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27 junho, 2005

 

3.Figuras - Ti Carriço

Desapareceu mais uma figura típica dos Forcalhos: o ti Carriço, de nome próprio António Maria Lourenço. Faleceu no dia 28 de Fevereiro de 2005, algum tempo depois de ter completado 100 anos.




-Fotos com o ti Carriço e seu "harmónico" na ronda do Natal de 1988.



Era exímio tocador de "harmónico" desde a sua mocidade. Divertiu, sempre gratuitamente, várias gerações da mocidade forcalhense, mesmo depois de casado. Como reconhecimento, por vezes, os moços ajudavam-no em tarefas próprias da lavoura.
Paz à sua alma.

CHGJ

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26 junho, 2005

 

2.Os Forcalhos entre 1678 e 1696

Guardam-se na Torre do Tombo, em Lisboa, os 2 livros mais antigos dos registos paroquiais dos Forcalhos. O primeiro livro, muito deteriorado e incompleto, contém registos de baptimos que vão de Junho de 1678 a Setembro de 1691: cerca de 18 anos seguidos.




Folha do 1º livro e capa do 2º livro dos registos paroquiais dos Forcalhos, na Torre do Tombo.







No século passado, até ao surto emigratório, a maioria dos casamentos eram endogâmicos. Com algumas e raras excepções, as pessoas nasciam, casavam e morriam nos Forcalhos. Os casamentos processavam-se, essencialmente, entre naturais da povoação.

Entre 1678 e 1696, porém, não foi isso que aconteceu. Nestes 18 anos, pelas nossas contas, conhecemos o nome de 74 das 76 crianças baptizadas e nascidas de 36 casais diferentes. O espantoso é que apenas 2 destes 36 casais são integralmente constituídos por pessoas naturais dos Forcalhos. Os restantes casais são constituídos por um cônjuge natural dos Forcalhos e por outro cônjuge vindo de fora, ou são, mesmo, constituídos por 2 cônjuges naturais de terras estranhas e até bastante afastadas em alguns casos.
Também pelos casamentos se apura que veio muita gente de fora.

Como se explica este fenómeno?
Parece-nos que a explicação se encontra na Guerra da Restauração que se iniciou com a revolta do 1º de Dezembro de 1640 e se prolongou até 1668 ano em que se assinou o tratado de paz.
A nossa região foi muito afectada. Aqui se encontrava um ponto estratégico de capital importância para defesa do país: Almeida. Mais perto de nós, outros dois pontos com certo relevo: O castelo de Albergaria, do inimigo, situado muito perto de nós, e o castelo de Alfaiates, mais distante, de onde poderíamos esperar um problemático auxílio.
Mal a guerra começou, logo em 1642, o inimigo do castelo de Albergaria assaltou os Forcalhos por duas vezes, saqueou, queimou, prendeu gente. Compreende-se, que nestas circunstancias, sendo a nossa uma aldeia aberta, indefesa, á mercê do inimigo muito próximo, pelo menos grande parte dos habitantes decidisse deslocar-se para zonas mais seguras.
É significativo o que se pode apurar nas entrelinhas de alguns assentos, do género: "... que no tempo da guerra foi morar a S. Miguel de Acha".

Os Forcalhos devem ter passado, então, por um forte declínio e despovoamento, de tal forma que a igreja matriz teve de ser reconstruída, depois da guerra, à custa do bispo de Lamego e a ermida de Nossa Senhora da Consolação, encostada à fronteira e importante centro de romarias também teve de ser objecto de grandes obras de restauro.

Mais desenvolvimentos no próximo jornal "Notícias dos Forcalhos" a distribuir em Agosto.

CHGJ

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25 junho, 2005

 

1.Início

Em 1982 fizemos uma pequena experiência com a publicação de "A Nossa Terra Junto á Fronteira". Pretendíamos arrancar com uma pequena publicação periódica de cunho local que lutasse pelo bem do nosso rincão, desse a conhecer, na medida do possível, o passado, (história, hábitos, tradições, património, ....).
Em Janeiro de 1984, sob o patrocínio da Associação Recreativa e Cultural dos Forcalhos, então recentemente criada, iniciou-se a publicação do jornalzito "Notícias dos Forcalhos", que presentemente é a publicação periódica mais antiga que se continua a publicar, ininterruptamente, no concelho do Sabugal (ver pags. 223 a 225 do Congresso do 7º Centenário do Foral - Sabugal - Actas).

"Notícias dos Forcalhos" é um jornalito humilde, pobrito, feito por amadores, com a impressão, a preto e branco, realizada em simples fotocopiadoras. Serve de orgão da Associação, pugna pelo pogresso da terra e pela presservação e divulgação do seu património cultural e serve de veículo informativo e de elo de ligação entre conterrâneos e associados residentes nos Forcalhos ou espalhados pelo país e estrangeiro.

Agora, mantendo os mesmos desígnios, recorremos ás novas tecnologias e aos meios que elas nos possibilitam. É mais uma experiencia. Vamos ver no que ela dá!

O Director

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