16 julho, 2007

 

181. O Curral tradicional

-----Actualizado em 22-07-2007-------

Em frente da casa situava-se o curral, quase sempre bem murado. Entrava-se nele por uma larga abertura com portões de ferro, portões de madeira coberta com chapa metálica ou apenas de madeira. Na entrada de alguns, apenas cancelas; noutros, nem isso.
Nos currais guardava-se a lenha que se juntava, em monte, a um canto ou se colocava nas “tchapanas” (choupanas).
Também por ali se deixavam carros de lavoura, arados, sêtos de verga ou de tábua, grades, rastras, côrças e outros instrumentos ou alfaias agrícolas.
No verão, quando fazia mais calor, em alguns currais fechados as vacas chegavam a dormir cá fora, neles.
O estrume, saído da “lóije” ou da córte do gado, amontoava-se na parte mais baixa do curral, onde se ia curtindo até ser levado para as fazendas.
Aqui andavam as galinhas, aqui se lhes deitava de comer e aqui ficava a pia onde bebiam. Já contámos que, nos Forcalhos a maior parte dessas pias eram de pedra mas havia algumas (poucas) que eram de ferro e que se dizia serem dos canhões dos franceses que por aqui andaram nas Invasões Francesas. Em minha casa havia duas destas.
Antigamente as galinhas andavam livremente pela a rua. Com parte dos porcos acontecia o mesmo. Mas não se perdiam. Todos sabiam onde deviam ir ter. Uma foto de 1987 atesta como, nesse ano, ainda havia animais à solta nos espaços públicos. Um galo a três galinhas passeiam-se, à vontade, no largo do Adro. A GNR, há umas dezenas de anos, começaram a multar os proprietários dos porcos e galinhas que encontravam na rua e contribuiram para a mudança de hábitos.
Para as galinhas dormirem destinavam-se os poleiros; para os porcos havia as cortelhas. Nas casas de dois pisos o poleiro e a cortelha localizavam-se, em regra, por baixo das escaleiras e do balcão. Nas casas térreas situavam-se numa pequena construção autónoma, com o poleiro, habitualmente sobreposto à cortelha.
Ao lado da habitação erguia-se, amiúde, outra construção que podia servir de córte (para vacas, burra ou cavalo), de palheiro (para palha e feno) ou de arrecadação. Esta outra construção, com menos frequência, podia englobar o poleiro e a cortelha.
Para ilustrar este post juntamos imagens do nosso arquivo pessoal. Inserimos a letra “A” para indicar a porta destinada à entrada e saída do porco e a letra “B” para mostrar a abertura para entrarem e sairem as galinhas. Esta abertura para as galinhas era pequena e, à tarde ou à noite, depois delas entrarem, era fechada com uma pedra pesada para a raposa não ir lá a horas mortas e as matar ou comer.
Os poleiros tinham, às vezes, uma segunda abertura, maior, para tiragem dos ovos e limpeza, como acontecia no poleiro em casa de meus pais e na de meus avôs. Nestas duas casas os poleiros ficavam por baixo das escaleiras, com uma abertura lateral, a que dava acesso uma estreita escada exterior, de paus, para facilitar o ingresso e saída das aves. A esta abertura acrescia uma outra maior, com uma porta de cerca de meio metro de altura, ou pouco mais… logo a seguir à porta, ao lado e no interior, fazia-se um ninho de palha onde se deixava sempre um ovo (o “indês”) para as galinhas “pôrem”. Esta porta ficava pot baixo do balcão na passagem para a “loije” e era por ela que se tiravam os ovos e se fazia a limpeza.
Mantêm-se alguns currais nas casas que se vão transformando e as funções diversificaram-se: os currais tornaram-se logradouro da casa onde já não há carros de vacas, utensílios antigos ou animais à solta. As cortelhas e poleiros desapareceram e julgo que neste momento se manterá apenas uma meia dúzia deles, embora vazios e já sem utilização ou em ruinas…
Nas casas de dois pisos os animais foram deixando de ficar por baixo das pessoas, no piso inferior. Hoje já não se verifica de todo esse costume que tinha as suas razões de ser.
Por tudo isto usámos o pretérito na descrição que fizemos.






















- Esquerda: 1979, carro e carroça no curral de Orlindo Jorge. -Direita: 1982, pia de ferro para bebedouro de galinhas.




















- Esquerda: 1981, um recanto do curral de Orlindo Jorge . - Direita: 1981, recanto de um curral que julgamos ter sido do ti Soia.



















- Esquerda: 1983, casa e respectivo curral com tchapana ao fundo da Rua do Canto. - Direita: 1987, largo do Adro com galinhas a passear.














- Esquerda: 1986, casa com curral abandonado. Pertenceu aos pais do Leonel e da Leontina, na Rua da Quinta e hoje restaurada com muitas transformações e demolição do balcão. - Direita: 1986, aqui vivia na altura o ti Amândio nesta casa contígua com o largo dos Fornais e Rua do Forno.. Nota-se, além do mais, a tchapana, monte de estrume e cepo para cortar lenha.














- Esquerda: 1986, junto ao Largo e Rua dos Fornais, curral com cortelha e poleiro. - Direita: 1987, Rua do Forno Telheiro, cortelha e poleiro actualmemte semi destruídos. Foram de Domingos Peres.



















- Esquerda: 1991, cortelha e poleiro na estrada da Lageosa - Direita: 1991, cortelha do ti Barroco, na Rua da Quinta.
















- Esquerda: 1991, casa e curral do ti Benito no caminho do Fornito - Direita: 2005, balcão com poleiro e cortelha na casa que foi de Francisco Jorge. Foi parte de antigo passal.
















- Esquerda: 2005, nesta foto a casa da direita foi até há anos atrás quartel da Guarda Fiscal. Na outra vê-se cortelha e poleiro. Ficam na Rua da Quinta. Direita: 2001, ruínas de casa que foi do ti Gusmão, na rua da Praça.






























- Esquerda: 1983, Rua da Bica, casa com cortelha e poleiro. - Direita: 1987, recanto de curral com instrumentos agrícolas e uma galinha.

CHGJ

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