17 janeiro, 2006

 

95. Arquivo JNF - Há 20 anos

Colchão ortopédico

O nosso jornalzinho está recheado de pequenas histórias pessoais muito curiosas. Esta é mais uma. Ilustra bem o bom relacionamento com as aldeias vizinhas, neste caso particular com Aldeia Velha. Recordo que, sendo as festas da Aldeia Velha no fim-de-semana a seguir às dos Forcalhos, era, muitas vezes, nestas festas que me despedia destas terras que amamos.
Transcrevemos o artigo escrito por António Alves Martins no jornal número 6 de Julho de 1986:

"Peripécias da Juventude

Como era habito, nós, os que não morávamos nos ForcaIhos, juntávamo-nos no verão, por muitos dias, com os que lá faziam pela vida, e lá fazíamos as nossas farras, assim como as fazíamos também nas terras vizinhas, como é o caso desta história.
Uma ocasião, num dia 29 de Setembro dum ano que não me lembro, fui eu com meus primos e amigos inseparáveis, Daniel Paulo e o saudoso Orlindo Charro, em direcção a Aldeia Velha, a fim de nos divertirmos um pouco no baile, pois como se sabe era lá o dia da festa. Claro que nos juntamos lá a outros forcalhenses e fomos até às tantas da manhã. Como isto já estava previsto e queríamos assistir a capeia do dia seguinte, durante a tarde marcámos lugares na pensão palheiro que o Sr. Germano nos facultou com cobertores e tudo.
Por volta das 3h da manha lá nos arrumámos conforme pudemos, seríamos talvez uns sete ou oito, dormimos menos mal e por volta das 10h a malta começou a despertar e quase todos se queixavam dos ossos, pois que o colchão era demasiado duro. Disse quase todos porque eu era a excepção, pois não me queixei da dureza da cama, achei até que tinha dormido confortavelmente.
Quando me pus de pé foi achada a razão do meu conforto: eu tinha dormido em cima duma bosta e como tinha a camisa vestida... pôs-se o problema como é que eu me apresentava à sociedade. Então um dos do grupo foi a casa do Sr. Germano e a filha deste, a Lucinda recordam-se?, emprestou uma camisa dum dos irmãos, hoje meus colegas de empresa, e fez o favor de lavar a minha e assim se resolveu o problema. […] "





- Excremento de animal.






Com este testemunho aqui fica uma possível solução para quem sofrer de dores de costas.

OJ

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Comments:
Aldeia VELHAAAAA!!! =) pronto, tinha de soltar o sentimento telúrico, para não dizer bairrismo. ;) Os meus pais dizem que os Forcalhos sempre foram chamados a "Quinta de Aldeia Velha", por ser perto e por ser pequena... e por piada. =) E deves-te ter enganado ali, porque não é 29 de setembro, mas 29 de Agosto...

Hoje em dia as festas são mais cedo, por causa dos emigrantes. Começam a 23 e acabam a 26. E é engraçado como conheço bem a casa do Sr Germano e ouvi falar da Lucinda. Rapariga do tempo da minha mãe. ;) E a publicação lembrou-me também as narrativas de noites do meu pai no curral ao pé das vacas, como já referi, para não ter frio...e acho que uma vez ele e o irmão queriam trazer os bacorinhos ou trouxeram mesmo (!!!!) para as camas...enfim!!! =D
 
quais os forcalhos...enganei-meee! queria dizer forcalhos...forcalhos só. quinta de aldeia velha só. ;)
 
Três apontamentos:

Em primeiro lugar não sou o autor do texto nem faço parte da história (ocorrida em data indefinida), e possivelmente nem era nascido. Como digo no cabeçalho do post é uma transcrição tirada do jornal Notícias dos Forcalhos, portanto se existe erro não é meu.

Em segundo por causa dos emigrantes (como tu mesma dizes) praticamente todas as aldeias mudaram a data da festa principal sendo a dos Forcalhos a excepção que a mantém na data tradicional.

Em terceiro lugar só por piada se pode dizer que os Forcalhos era uma quinta da Aldeia Velha porque em 1365 já era paróquia autónoma e, apesar de vizinhos, até ao século XIX vocês pertenciam ao concelho do Sabugal e nós ao de Alfaiates (ainda bem que fizeste a emenda no segundo comentário).
Curiosamente no foral manuelino do Sabugal figuram os Forcalhos mas a Aldeia Velha não.(eheheheh)
Desculpa mas tive de puxar pelos pergaminhos. ;)

Mas, bairrismo à parte, o que interessa salientar é a convivência sadia entre as várias aldeias.
 
E para salientar o valor dos Forcalhos faço um paralelismo com dois provérbios populares:
- Os homens não se medem aos palmos.
- A mulher e a sardinha, quer-se da mais pequenina.
 
Essa dos bacorinhos... genial! ;))
Hoje em dia é difícil de imaginar a vida de então…. Nada de aquecedores, ar condicionado...
 
Passou-me a data do arquivo e pensei que tivesses escrito o texto...então o lapso de 29 de Setembro não é teu... fiquei esclarecida.

Penso que antes a festa de Aldeia Velha começava a 28 e só durava 2 dias... procissão e capeia. Mas tenho de me informar melhor.

Isso do foral também acho que foi um lapso! Como pode uma aldeia como Aldeia Velha desde o início constou no concelho do Sabugal, enquanto que os Forcalhos faziam parte do concelho de Alfaiates, não constar no foral? Na na, alguma coisa está mal aí!!! =P

Provérbios, provérbios... em Aldeia Velha também se diz o que disseste. E outros como "roupa branca em janeiro, muito brio ou pouco dinheiro". Mas o meu preferido é um que se diz em toda a raia... "Pr'onde quer que vandes, mostrandes sempre o que sandes!!" =)

Sim, a vida antes era diferente... Os meus pais até têm uma adivinha sobre isso... "O que fazes hoje com o dedo que antes fazias com a língua?" "Apagar a luz". (como é óbvio, antes molhavam-se os dedos e apagavam-se as velas, e hoje é só carregar no interruptor)
 
O que digo é verdade e podes confirmar ao leres o foral manuelino do Sabugal.
Pois é: Pelos vistos o que elevas na importância não tem assim tanta e o que subestimas tem mais do que imaginas. Na vida há muitos destes enganos. :P

Eu ainda fui tocado, embora ao de leve e sem comparação com a vivência de nossos pais, pelo fim desses tempos. Ainda me lembro que em casa de meus avós os animais estavam na loja (piso inferior) e nós dormíamos no piso superior. Embora existisse uma separação efectiva entre os pisos o que é certo é que a parte superior beneficiava do calor provocado pelos animais no piso inferior.
 
isso do foral foi um lapso e pronto!

na casa da minha avó também era assim. =)
 
só uma achega àcerca de "proberbios" (ditos) das nossas terras:
QUEM TEM "JENELAS" DE "BRIDOS"
"NO" PODE ATIRAR "LANTCHADAS"
ATIRA ÀS DOS DEMAIS
ENCONTRA AS DELE "ESCARTCHADAS"!

E esta hem!!!!
 
Ainda a propósito de colchões ortopédicos....
Contava o meu falecido pai que quando cumpria serviço militar na Covilhã, foram em manobras até à Ota (a tal do novo aeroporto)e íam pernoitando pelo caminho....
Carroças puxadas por mulas levavam tendas e mantimentos para todos...
Há hora de fazer a cama, cansados e às escuras tentavam escolher o melhor local, com pasto macio ou terra lavrada para armar a tenda...
Numa noite, o grupo onde ele estava, encontrou um local com pasto macio e fizeram tal alarido que os oficiais acercaram-se e apoderaram-se do tal local....
Surpresa na manhã seguinte... quando acordaram inundados...
O pasto macio devia-se a uma passagem de água (talvez de alguma represa de rega...) que por acaso ou não, fora aberta nessa manhã...
Enfim...outros tempos...
 
Fernando Latote, óptima achega e provérbio com sabor local e bem a propósito... :)
Obrigado também por partilhar essa história. Mais uma a juntar ao manancial de recordações da vida de outros tempos.
 
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