06 janeiro, 2006

 

90. Reis e as Janeiras






- "Adoração dos Reis Magos", retábulo da Sé de Viseu, oficina de Vasco Fernandes/Grão Vasco (1501-1506).









Com o decorrer do tempo e por variadas razões a Igreja diminuiu o numero de “dias santos de guarda”. Estes dias, para além da festa religiosa, constituíam ao longo do ano uma espécie de férias, de dias de descanso e lazer, pois neles estavam proibidos os trabalhos serviçais.
Alguns destes dias balizavam o cumprimento de obrigações e o início e termo de contractos vários.
Só um exemplo colhido de folhas 576 e 576 v.º do Livro 278, Núcleo Antigo, do Arquivo da Torre do Tombo: o Padre Baltazar Fernandes (que jaz na nossa capela da Consolação) em 1593 declarou pagar de foro duas galinhas aos alcaides mores da vila do Sabugal, por dia de S. Miguel, em Setembro de cada ano.
Vem isto a propósito da festa dos Reis que tem vindo a perder importância entre nós. Da mesma forma as janeiras. Por todo o país se cantavam as janeiras. Nos Forcalhos, uma das últimas manifestações terá ocorrido há perto de uns 60 anos, comigo e malta contemporânea. Garotos, resolvemos ir pedir as janeiras, mas já sem cantigas nem lengalengas. Lá conseguimos umas farinheiras e morcelas… sim, só isto, porque enchidos nobres (chouriças ou chouriços) não eram para garotos se divertirem.
Com elas e com uns ovos, não sei se dados se surripiados, fomos fazer a borga para uma casa da rua do Corro, julgo que nela teria vivido uma tê Clara.
Lá cozinhámos as coisas à nossa maneira e colocámos o cozinhado num recipiente qualquer.
Deu-se o sinal de ataque… e foram garfos e mãos simultaneamente… sem acidentes (um milagre!) e tudo desapareceu num instante, sem que ninguém tivesse comido coisa que se visse!


Normalmente é a partir desta data que se retiram as decorações do natal, desmonta-se o presépio e a árvore de natal. Como tal, nós aproveitámos o dia e retirámos já os “enfeites” natalícios, voltando o rosto a apresentar a sua imagem normalizada.









CHGJ

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Comments:
Isso foi há 60 anos?
 
Amigo tarrentino “El Mono”: Há cerca de sessenta anos… é verdade… o que significa que já sou velho!
Mas… que é que queres?… um jovem desafiou-me para com ele fazer o blogue e eu disse que sim… no pressuposto de que teria algo para dizer… se calhar presunção minha!
De qualquer forma a minha geração assistiu a uma profunda evolução das zonas rurais, e não só. A minha contribuição, além do mais, servirá para testemunhar essa evolução, com aspectos positivos e negativos, evolução essa que, como vês, já na minha infância estava em marcha. Apesar de reformado, ainda continuo vivo e a trabalhar, de borla, no âmbito do social e cultural.
CHGJ
 
E o jovem agradece esse sim ao convite. Quem o conhece sabe bem a mais valia que é. Elogios tinham que ser muitos mas, conhecendo eu a pessoa como conheço, sei que não devo. Fico-me por um obrigado.

OJ
 
Uns garotos apareceram por minha casa dia 31...a cantar as janeiras. e nunca tinha visto por esta altura. gostei. =)
 
note-se que estou lá nessa altura todos os anos e só este ano vi que algumas tradições ainda são recuperadas...foi giro.=)
 
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