08 setembro, 2007
182. Despedida
Por razões diversas, deixámos de ter disponibilidade para manter este blog que construímos com amor.
Deixá-lo morrer aos poucos… não!
Vamos, por isso, encerrá-lo, embora com pena!
Aos nossos amigos visitantes e comentadores, aos autores dos blogs e sites referenciados, deixamos uma palavra de agradecimento, desejando, para todos, as maiores felicidades.
Se mais tarde as circunstâncias se alterarem, voltaremos com um outro blog diferente.
Carlos Henrique Gonçalves Jorge
Orlindo Joaquim Patrício Carreira Gonçalves Pires Jorge
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Deixá-lo morrer aos poucos… não!
Vamos, por isso, encerrá-lo, embora com pena!
Aos nossos amigos visitantes e comentadores, aos autores dos blogs e sites referenciados, deixamos uma palavra de agradecimento, desejando, para todos, as maiores felicidades.
Se mais tarde as circunstâncias se alterarem, voltaremos com um outro blog diferente.
Carlos Henrique Gonçalves Jorge
Orlindo Joaquim Patrício Carreira Gonçalves Pires Jorge
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16 julho, 2007
181. O Curral tradicional
-----Actualizado em 22-07-2007-------
Em frente da casa situava-se o curral, quase sempre bem murado. Entrava-se nele por uma larga abertura com portões de ferro, portões de madeira coberta com chapa metálica ou apenas de madeira. Na entrada de alguns, apenas cancelas; noutros, nem isso.
Nos currais guardava-se a lenha que se juntava, em monte, a um canto ou se colocava nas “tchapanas” (choupanas).
Também por ali se deixavam carros de lavoura, arados, sêtos de verga ou de tábua, grades, rastras, côrças e outros instrumentos ou alfaias agrícolas.
No verão, quando fazia mais calor, em alguns currais fechados as vacas chegavam a dormir cá fora, neles.
O estrume, saído da “lóije” ou da córte do gado, amontoava-se na parte mais baixa do curral, onde se ia curtindo até ser levado para as fazendas.
Aqui andavam as galinhas, aqui se lhes deitava de comer e aqui ficava a pia onde bebiam. Já contámos que, nos Forcalhos a maior parte dessas pias eram de pedra mas havia algumas (poucas) que eram de ferro e que se dizia serem dos canhões dos franceses que por aqui andaram nas Invasões Francesas. Em minha casa havia duas destas.
Antigamente as galinhas andavam livremente pela a rua. Com parte dos porcos acontecia o mesmo. Mas não se perdiam. Todos sabiam onde deviam ir ter. Uma foto de 1987 atesta como, nesse ano, ainda havia animais à solta nos espaços públicos. Um galo a três galinhas passeiam-se, à vontade, no largo do Adro. A GNR, há umas dezenas de anos, começaram a multar os proprietários dos porcos e galinhas que encontravam na rua e contribuiram para a mudança de hábitos.
Para as galinhas dormirem destinavam-se os poleiros; para os porcos havia as cortelhas. Nas casas de dois pisos o poleiro e a cortelha localizavam-se, em regra, por baixo das escaleiras e do balcão. Nas casas térreas situavam-se numa pequena construção autónoma, com o poleiro, habitualmente sobreposto à cortelha.
Ao lado da habitação erguia-se, amiúde, outra construção que podia servir de córte (para vacas, burra ou cavalo), de palheiro (para palha e feno) ou de arrecadação. Esta outra construção, com menos frequência, podia englobar o poleiro e a cortelha.
Para ilustrar este post juntamos imagens do nosso arquivo pessoal. Inserimos a letra “A” para indicar a porta destinada à entrada e saída do porco e a letra “B” para mostrar a abertura para entrarem e sairem as galinhas. Esta abertura para as galinhas era pequena e, à tarde ou à noite, depois delas entrarem, era fechada com uma pedra pesada para a raposa não ir lá a horas mortas e as matar ou comer.
Os poleiros tinham, às vezes, uma segunda abertura, maior, para tiragem dos ovos e limpeza, como acontecia no poleiro em casa de meus pais e na de meus avôs. Nestas duas casas os poleiros ficavam por baixo das escaleiras, com uma abertura lateral, a que dava acesso uma estreita escada exterior, de paus, para facilitar o ingresso e saída das aves. A esta abertura acrescia uma outra maior, com uma porta de cerca de meio metro de altura, ou pouco mais… logo a seguir à porta, ao lado e no interior, fazia-se um ninho de palha onde se deixava sempre um ovo (o “indês”) para as galinhas “pôrem”. Esta porta ficava pot baixo do balcão na passagem para a “loije” e era por ela que se tiravam os ovos e se fazia a limpeza.
Mantêm-se alguns currais nas casas que se vão transformando e as funções diversificaram-se: os currais tornaram-se logradouro da casa onde já não há carros de vacas, utensílios antigos ou animais à solta. As cortelhas e poleiros desapareceram e julgo que neste momento se manterá apenas uma meia dúzia deles, embora vazios e já sem utilização ou em ruinas…
Nas casas de dois pisos os animais foram deixando de ficar por baixo das pessoas, no piso inferior. Hoje já não se verifica de todo esse costume que tinha as suas razões de ser.
Por tudo isto usámos o pretérito na descrição que fizemos.
- Esquerda: 1979, carro e carroça no curral de Orlindo Jorge. -Direita: 1982, pia de ferro para bebedouro de galinhas.
- Esquerda: 1981, um recanto do curral de Orlindo Jorge . - Direita: 1981, recanto de um curral que julgamos ter sido do ti Soia.
- Esquerda: 1983, casa e respectivo curral com tchapana ao fundo da Rua do Canto. - Direita: 1987, largo do Adro com galinhas a passear.
- Esquerda: 1986, casa com curral abandonado. Pertenceu aos pais do Leonel e da Leontina, na Rua da Quinta e hoje restaurada com muitas transformações e demolição do balcão. - Direita: 1986, aqui vivia na altura o ti Amândio nesta casa contígua com o largo dos Fornais e Rua do Forno.. Nota-se, além do mais, a tchapana, monte de estrume e cepo para cortar lenha.
- Esquerda: 1986, junto ao Largo e Rua dos Fornais, curral com cortelha e poleiro. - Direita: 1987, Rua do Forno Telheiro, cortelha e poleiro actualmemte semi destruídos. Foram de Domingos Peres.
- Esquerda: 1991, cortelha e poleiro na estrada da Lageosa - Direita: 1991, cortelha do ti Barroco, na Rua da Quinta.
- Esquerda: 1991, casa e curral do ti Benito no caminho do Fornito - Direita: 2005, balcão com poleiro e cortelha na casa que foi de Francisco Jorge. Foi parte de antigo passal.
- Esquerda: 2005, nesta foto a casa da direita foi até há anos atrás quartel da Guarda Fiscal. Na outra vê-se cortelha e poleiro. Ficam na Rua da Quinta. Direita: 2001, ruínas de casa que foi do ti Gusmão, na rua da Praça.
- Esquerda: 1983, Rua da Bica, casa com cortelha e poleiro. - Direita: 1987, recanto de curral com instrumentos agrícolas e uma galinha.
CHGJ
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Em frente da casa situava-se o curral, quase sempre bem murado. Entrava-se nele por uma larga abertura com portões de ferro, portões de madeira coberta com chapa metálica ou apenas de madeira. Na entrada de alguns, apenas cancelas; noutros, nem isso.
Nos currais guardava-se a lenha que se juntava, em monte, a um canto ou se colocava nas “tchapanas” (choupanas).
Também por ali se deixavam carros de lavoura, arados, sêtos de verga ou de tábua, grades, rastras, côrças e outros instrumentos ou alfaias agrícolas.
No verão, quando fazia mais calor, em alguns currais fechados as vacas chegavam a dormir cá fora, neles.
O estrume, saído da “lóije” ou da córte do gado, amontoava-se na parte mais baixa do curral, onde se ia curtindo até ser levado para as fazendas.
Aqui andavam as galinhas, aqui se lhes deitava de comer e aqui ficava a pia onde bebiam. Já contámos que, nos Forcalhos a maior parte dessas pias eram de pedra mas havia algumas (poucas) que eram de ferro e que se dizia serem dos canhões dos franceses que por aqui andaram nas Invasões Francesas. Em minha casa havia duas destas.
Antigamente as galinhas andavam livremente pela a rua. Com parte dos porcos acontecia o mesmo. Mas não se perdiam. Todos sabiam onde deviam ir ter. Uma foto de 1987 atesta como, nesse ano, ainda havia animais à solta nos espaços públicos. Um galo a três galinhas passeiam-se, à vontade, no largo do Adro. A GNR, há umas dezenas de anos, começaram a multar os proprietários dos porcos e galinhas que encontravam na rua e contribuiram para a mudança de hábitos.
Para as galinhas dormirem destinavam-se os poleiros; para os porcos havia as cortelhas. Nas casas de dois pisos o poleiro e a cortelha localizavam-se, em regra, por baixo das escaleiras e do balcão. Nas casas térreas situavam-se numa pequena construção autónoma, com o poleiro, habitualmente sobreposto à cortelha.
Ao lado da habitação erguia-se, amiúde, outra construção que podia servir de córte (para vacas, burra ou cavalo), de palheiro (para palha e feno) ou de arrecadação. Esta outra construção, com menos frequência, podia englobar o poleiro e a cortelha.
Para ilustrar este post juntamos imagens do nosso arquivo pessoal. Inserimos a letra “A” para indicar a porta destinada à entrada e saída do porco e a letra “B” para mostrar a abertura para entrarem e sairem as galinhas. Esta abertura para as galinhas era pequena e, à tarde ou à noite, depois delas entrarem, era fechada com uma pedra pesada para a raposa não ir lá a horas mortas e as matar ou comer.
Os poleiros tinham, às vezes, uma segunda abertura, maior, para tiragem dos ovos e limpeza, como acontecia no poleiro em casa de meus pais e na de meus avôs. Nestas duas casas os poleiros ficavam por baixo das escaleiras, com uma abertura lateral, a que dava acesso uma estreita escada exterior, de paus, para facilitar o ingresso e saída das aves. A esta abertura acrescia uma outra maior, com uma porta de cerca de meio metro de altura, ou pouco mais… logo a seguir à porta, ao lado e no interior, fazia-se um ninho de palha onde se deixava sempre um ovo (o “indês”) para as galinhas “pôrem”. Esta porta ficava pot baixo do balcão na passagem para a “loije” e era por ela que se tiravam os ovos e se fazia a limpeza.
Mantêm-se alguns currais nas casas que se vão transformando e as funções diversificaram-se: os currais tornaram-se logradouro da casa onde já não há carros de vacas, utensílios antigos ou animais à solta. As cortelhas e poleiros desapareceram e julgo que neste momento se manterá apenas uma meia dúzia deles, embora vazios e já sem utilização ou em ruinas…
Nas casas de dois pisos os animais foram deixando de ficar por baixo das pessoas, no piso inferior. Hoje já não se verifica de todo esse costume que tinha as suas razões de ser.
Por tudo isto usámos o pretérito na descrição que fizemos.
- Esquerda: 1979, carro e carroça no curral de Orlindo Jorge. -Direita: 1982, pia de ferro para bebedouro de galinhas.
- Esquerda: 1981, um recanto do curral de Orlindo Jorge . - Direita: 1981, recanto de um curral que julgamos ter sido do ti Soia.
- Esquerda: 1983, casa e respectivo curral com tchapana ao fundo da Rua do Canto. - Direita: 1987, largo do Adro com galinhas a passear.
- Esquerda: 1986, casa com curral abandonado. Pertenceu aos pais do Leonel e da Leontina, na Rua da Quinta e hoje restaurada com muitas transformações e demolição do balcão. - Direita: 1986, aqui vivia na altura o ti Amândio nesta casa contígua com o largo dos Fornais e Rua do Forno.. Nota-se, além do mais, a tchapana, monte de estrume e cepo para cortar lenha.
- Esquerda: 1986, junto ao Largo e Rua dos Fornais, curral com cortelha e poleiro. - Direita: 1987, Rua do Forno Telheiro, cortelha e poleiro actualmemte semi destruídos. Foram de Domingos Peres.
- Esquerda: 1991, cortelha e poleiro na estrada da Lageosa - Direita: 1991, cortelha do ti Barroco, na Rua da Quinta.
- Esquerda: 1991, casa e curral do ti Benito no caminho do Fornito - Direita: 2005, balcão com poleiro e cortelha na casa que foi de Francisco Jorge. Foi parte de antigo passal.
- Esquerda: 2005, nesta foto a casa da direita foi até há anos atrás quartel da Guarda Fiscal. Na outra vê-se cortelha e poleiro. Ficam na Rua da Quinta. Direita: 2001, ruínas de casa que foi do ti Gusmão, na rua da Praça.
- Esquerda: 1983, Rua da Bica, casa com cortelha e poleiro. - Direita: 1987, recanto de curral com instrumentos agrícolas e uma galinha.
CHGJ
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26 junho, 2007
180. Antes e depois. Rua do Forno
Como em três anos muda o aspecto de uma rua!
Nas fotos de cima: Veja-se o lado esquerdo da parte sul da Rua do Forno, em sentido descendente, na data de 1983. Só havia uma casa rebocada, do ti Mândio lá ao fundo. Em 1986, três anos depois, já não se vê pedra de nenhuma parede, em virtude de alterações, reboco e pintura.
Agora uma vista do mesmo lado da Rua, a partir do Largo dos Fornais.
Numa fotografia do saudoso Carlos Alberto Martrins Jorge, aparece a casa do ti Mândio com reboco e as outras construções com a pedra à vista.. Mas em 2005 constata-se que os donos da casa que foi do ti Mândio, por luxo, tiraram o reboco para deixar a pedra à vista. Na continuação as paredes das construções seguintes foram alteradas e caiadas.
- A vermelho, para onde aponta a seta, a Rua do Forno.
CHGJ
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Nas fotos de cima: Veja-se o lado esquerdo da parte sul da Rua do Forno, em sentido descendente, na data de 1983. Só havia uma casa rebocada, do ti Mândio lá ao fundo. Em 1986, três anos depois, já não se vê pedra de nenhuma parede, em virtude de alterações, reboco e pintura.
Agora uma vista do mesmo lado da Rua, a partir do Largo dos Fornais.
Numa fotografia do saudoso Carlos Alberto Martrins Jorge, aparece a casa do ti Mândio com reboco e as outras construções com a pedra à vista.. Mas em 2005 constata-se que os donos da casa que foi do ti Mândio, por luxo, tiraram o reboco para deixar a pedra à vista. Na continuação as paredes das construções seguintes foram alteradas e caiadas.
- A vermelho, para onde aponta a seta, a Rua do Forno.
CHGJ
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05 maio, 2007
179. Rei de Portugal e da Galiza
Não se trata do Portugal actual nem da Galiza de hoje. Nem pensem em segundas intenções deste inofensivo "post".
Mas, na verdade, Portugal e a Galiza (o que muitos ignoram) já estiveram unidos, com um rei próprio, que se finou em Alfaiates.
A primeira vez que tive conhecimento do facto foi há muito tempo (com surpresa e depois com pena do desgraçado), através do "Portugal Antigo e Moderno" de Pinho Leal, ao consultar este "Diccionário" sobre as nossas aldeias.
Diz-se aí: "Foi no castelo desta vila que o malvado D. Sancho de Castela fez encerrar seu infeliz irmão, D. Garcia, rei de Portugal e Galiza, em 1071; depois de lhe ter usurpado a herança que seu pai (D. Fernando Magno) lhe tinha dado, que eram aqueles dois reinos: e não contente com isto aqui lhe mandou arrancar os olhos! Neste castelo morreu de desgosto o malfadado principe".
A que propósito vem esta evocação? – perguntarão.
É simples. Mexendo agora em papéis, encontrei um recorte do "Nordeste" de Alfaiates e Rebolosa, nº 99, de Junho de 1998. Aí o P.e Manuel Botelho faz uma síntese destes acontecimentos terminando com um lindo poema.
Com "a devida vénia" só transcrevemos um pouco: "Nesta vila de Alfaiates veio a falecer o rei Garcia, no dia 22 de Março de 1090, que apesar dos infortúnios recebidos, foi o primeiro e único rei de Galiza e Portugal.
Coube à povoação de Alfaiates a dita de ter assistido aos últimos anos do único rei de Galiza e Portugal – Garcia, filho de Fernando I de Castela e irmão de Afonso VI de Leão e Castela".
As fotos inseridas são do Castelo de Alfaiates, tiradas em 2005.
CHGJ
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22 abril, 2007
178. Cangalhas
Nos Forcalhos já não há burros, quanto mais cangalhas! Bom… se burros houver, serão muito poucos!
Agora, por todo o lado, até são protegidos para não acabar a espécie!
Para memória das tais "cangalhas" aqui vai uma fotografia tirada em 1976. Precisando mais: não é bem uma fotografia mas um fotograma de uma fita de cinema. Entre outros motivos, filmei esta burra junto à antiga ponte da estrada que vai para Aldeia Velha.
- Fotogramas mostrando uma burra com cangalhas.
As cangalhas colocavam-se por cima da albarda e serviam para aí colocar coisas a transportar pelas burras, especialmente feixes de "ferrem". Podiam ser, também e por exemplo, feixes de lenha. Colocando-se um feixe de cada lado equilibrava-se o conjunto. Mas ainda, se necessário e a burra pudesse, podia acrescentar-se, por cima, ao centro, outro feixe que encaixava entre os dois primeiros.
Não confundir com alforges, que eram de tecido, ordinariamente de linho grosso ou de "raixão" (manta de farrapos).
- Burra com alforges, já publicada no post "23. Outros tempos" AQUI .
Para constatar melhor a diferença, juntamos uma foto de uma burra com alforges. Esta foto já consta do post nº 23 e nela se vê a bolsa do lado direito dos alforges completamente cheia.
Aproveitamos para dizer que havia outras "tecnologias" para carregar as burras sem recurso aos "sistemas" acabados de apontar: cangalhas e albarda. Ficarão para uma outra oportunidade.
CHGJ
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Agora, por todo o lado, até são protegidos para não acabar a espécie!
Para memória das tais "cangalhas" aqui vai uma fotografia tirada em 1976. Precisando mais: não é bem uma fotografia mas um fotograma de uma fita de cinema. Entre outros motivos, filmei esta burra junto à antiga ponte da estrada que vai para Aldeia Velha.
- Fotogramas mostrando uma burra com cangalhas.
As cangalhas colocavam-se por cima da albarda e serviam para aí colocar coisas a transportar pelas burras, especialmente feixes de "ferrem". Podiam ser, também e por exemplo, feixes de lenha. Colocando-se um feixe de cada lado equilibrava-se o conjunto. Mas ainda, se necessário e a burra pudesse, podia acrescentar-se, por cima, ao centro, outro feixe que encaixava entre os dois primeiros.
Não confundir com alforges, que eram de tecido, ordinariamente de linho grosso ou de "raixão" (manta de farrapos).
- Burra com alforges, já publicada no post "23. Outros tempos" AQUI .
Para constatar melhor a diferença, juntamos uma foto de uma burra com alforges. Esta foto já consta do post nº 23 e nela se vê a bolsa do lado direito dos alforges completamente cheia.
Aproveitamos para dizer que havia outras "tecnologias" para carregar as burras sem recurso aos "sistemas" acabados de apontar: cangalhas e albarda. Ficarão para uma outra oportunidade.
CHGJ
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05 abril, 2007
177. Matracas
- Foto da cruz da igreja dos Forcalhos em 2003 por Orlindo Jorge.
A Semana Santa, na minha meninice, era um tempo marcante. Não havia baile, não se cantava, tapavam-se as imagens na igreja com panos roxos… enfim, era uma semana de recolhimento e de ausência de manifestações de alegria, acompanhando o sofrimento e agonia do Salvador.
- Foto tirada por Orlindo Jorge, do sino menor da torre dos Forcalhos em 2003, antes da sua recuperação.
Também os sinos se calavam, não tocavam, chegando-se a tirar os cadeados aos respectivos badalos. Em lugar do toque dos sinos para chamar os cristãos para as cerimónias religiosas recorria-se a “matracas” que eram tocadas pelos garotos ou rapazes ao longo das ruas da povoação. Para dar idéia do que eram e como funcionavam as matracas, juntamos um mal alinhavado desenho. Para uma melhor compreensão também podem aceder à seguinte página AQUI de uma fundação espanhola.
Uma matraca era constituída essencialmente por uma tábua (mais elaborada do que a do desenho). Dos dois lados da tábua havia uma espécie de asas ou pegas de arame bem grosso que podiam girar para os lados a fim de baterem na tábua e fazer um ruído próprio. No cimo da tábua existia um buraco para meter a mão, segurar o conjunto e fazer girar a tábua para um e outro lado, de tal forma que os ferros batiam na dita tábua produzindo um barulho seco para convidar as pessoas a irem à igreja.
Depois deste pequeno apontamento, lembrando a forma como se vivia este período tão denso, e passados estes dias da Semana Santa, desejamos, na alegria da Ressureição, a todos, uma feliz Páscoa.
CHGJ
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03 abril, 2007
176. Domingo de Ramos
Forcalhos, 1 de Abril, Domingos de Ramos. Depois de, na televisão, ver parte das solenes e magestosas cerimónias religiosas presididas pelo Papa em Roma, fui à Missa na igreja dos Forcalhos. Que contraste!... Em rigor não foi própriamente Missa, mas antes o que se chama "celebração da palavra", presidida por um leigo, o Madalena da Lajeosa. Presentes cerca de umas quarenta pessoas, todas com pequenos e simples ramos de oliveira na mão. Houve uma pequena procissão à volta da igreja. Cerimónias simples, com gente simples… mas que me tocaram profundamente!
Recuei no tempo e recordei-me duma altura em que a população dos Forcalhos chegou a a ultrapassar 600 pessoas… recordei-me de cerimónias, não sei se do Domingo de Ramos se doutra festividade mais ou menos próxima, em que o sacerdote ou os mordomos tiravam, de açafates de verga, flores do campo, silvestres, primaveris, multicolores e olorosas e as espalhavam pelos fiéis, na igreja.
CHGJ
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Recuei no tempo e recordei-me duma altura em que a população dos Forcalhos chegou a a ultrapassar 600 pessoas… recordei-me de cerimónias, não sei se do Domingo de Ramos se doutra festividade mais ou menos próxima, em que o sacerdote ou os mordomos tiravam, de açafates de verga, flores do campo, silvestres, primaveris, multicolores e olorosas e as espalhavam pelos fiéis, na igreja.
CHGJ
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11 março, 2007
175. Assembleia Geral da ARCF
Está convocada a Assembleia Geral da ARCF para reunir, na sua sede, no próximo dia 31 de Março, pelas quinze horas, com a seguinte ordem de trabalhos:
1 - Discussão e votação do relatório e contas de gerência do ano de 2006;
2 – Adesão ADES- Associação Desenvolvimento Sabugal;
3 – Outros assuntos de interesse para a Associação.
CHGJ
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1 - Discussão e votação do relatório e contas de gerência do ano de 2006;
2 – Adesão ADES- Associação Desenvolvimento Sabugal;
3 – Outros assuntos de interesse para a Associação.
CHGJ
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28 janeiro, 2007
174. Antes e depois. Rua da Ribeira
Por falta de disponibilidade, não temos estado presentes e, consequentemente, não temos feito actualizações frequentes no nosso blog, como gostaríamos que acontecesse. Nos tempos mais próximos continuaremos com algumas dificuldades.
Por hoje, inserimos algumas imagens elucidativas de como era a entrada nos Forcalhos para quem viesse pelo caminho (hoje estrada) da Lajeosa. Interessantes transformações morfológicas que deixam saudades do ti Reino e do ti Gaspar, entre outros, e do tempo em que éramos jovens.
- Rua da Ribeira em 1976.
- Ponte e Rua da Ribeira em 1981.
- Ponte e Rua da Ribeira em 2005.
Quem se der ao trabalho, sobre este espaço, pode ver uma imagem na págins 265 do livro “Festividades Cíclicas em Portugal” de Ernesto Veiga de Oliveira, edição das Publicações Dom Quixote, em 1984. Mas, quem puder, veja o filme “Stierkampf in Forcalhos”, realizado em 1970 pelo Instituto do Filme Científico de Gottingen, em colaboração com o Centro de Estudos de Etnologia, de Lisboa e que pode ser encomendado por um preço bastante acessível.
CHGJ
----------- Actualização -------------
04/02/2007
Mais duas fotografias do caminho (agora estrada) da Lageosa e da Rua da Ribeira em dias de capeia, após o encerro.
- Foto de Agosto de 1987.
- Foto de Agosto de 2006.
- Localização, a vermelho, da zona fotografada da Rua da Ribeira.
CHGJ
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Por hoje, inserimos algumas imagens elucidativas de como era a entrada nos Forcalhos para quem viesse pelo caminho (hoje estrada) da Lajeosa. Interessantes transformações morfológicas que deixam saudades do ti Reino e do ti Gaspar, entre outros, e do tempo em que éramos jovens.
- Rua da Ribeira em 1976.
- Ponte e Rua da Ribeira em 1981.
- Ponte e Rua da Ribeira em 2005.
Quem se der ao trabalho, sobre este espaço, pode ver uma imagem na págins 265 do livro “Festividades Cíclicas em Portugal” de Ernesto Veiga de Oliveira, edição das Publicações Dom Quixote, em 1984. Mas, quem puder, veja o filme “Stierkampf in Forcalhos”, realizado em 1970 pelo Instituto do Filme Científico de Gottingen, em colaboração com o Centro de Estudos de Etnologia, de Lisboa e que pode ser encomendado por um preço bastante acessível.
CHGJ
----------- Actualização -------------
04/02/2007
Mais duas fotografias do caminho (agora estrada) da Lageosa e da Rua da Ribeira em dias de capeia, após o encerro.
- Foto de Agosto de 1987.
- Foto de Agosto de 2006.
- Localização, a vermelho, da zona fotografada da Rua da Ribeira.
CHGJ
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22 dezembro, 2006
173. Boas Festas
(Presépio, pintura de Gregório Lopes, óleo sobre madeira, c. 1527, Museu Nacional de Arte Antiga)
Desejamos, a todos, um bom natal, vincado por todos os bons sentimentos a ele adidos.
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12 novembro, 2006
172. Pedido de ajuda
Chega-nos seguinte email:
"Como é do conhecimento dos nossos amigos e conterrâneos dos Forcalhos e de todos os que conhecem este canto de Portugal praticamente todas as aldeias do concelho do Sabugal têm uma Capela para fazerem as suas festas e um local onde passar uma tarde entre familiares, ou amigos, como Aldeia Velha com a senhora dos Prazeres, Alfaiates com a festa na Capela da Sacaparte, Soito com a festa da senhora da Granja, etc.
Dentro desta evidencia porque não nós, dos Forcalhos, com a ermida da N. Senhora da Consolação, termos um dia de festa também como eles.
Esta Capela foi mandada construir mais ou menos nos anos de 1500, esteve durante vários anos abandonada em ruínas. Com a ajuda dos nossos amigos dos Forcalhos a sua recuperação iniciou-se e hoje vai tomando forma de Capela apesar de, num passado recente, ter servido de estábulo para animais.
Como sabem a Junta de freguesia de Forcalhos, no ano anterior, ou seja 2005, conseguiu mandar fazer por intermédio do AGRIS um Parque de Merendas, com um grande assador, um belo conjunto de mesas no interior de um telheiro construído para o efeito e outras debaixo dos carvalhos, para se passar uma bela tarde entre amigos.
A Junta de Freguesia está a reconstruir as paredes mais danificadas, que datam dos anos da construção da Capela, ou seja do lado Nascente e do lado Sul. A faltar ficam as paredes do lado Norte e do Poente, o tecto da capela, e muitos outros trabalhos no interior da mesma por não haver dinheiro para continuar os trabalhos.
Só vamos reconstruindo a Capela conforme os donativos que nos vão chegando de alguns amigos. O Presidente da Junta de Freguesia fez um pedido à Câmara Municipal do Sabugal para que fosse colocada a electricidade no local, e, com a ajuda de alguns amigos desta terra, o pedido foi aprovado e teremos a electricidade em breve no nosso Parque de Merendas e na Capela da Consolação.
Mas agora digo eu: - Há tanto dinheiro que é dado por uma Tourada de três ou quatro horas de espectáculo e porque não um pouco, do vosso pouco, para a ajuda da reconstrução da Capela, que é de todos e para toda a vida. Por isso peço a todos a vossa solidariedade para contribuir e ajudar à reconstrução desta obra
Um bocadinho de cada
Faz muito entre todos
Vamos a isto.
Um bem-haja a todos pela vossa ajuda
Um abraço
José Alves
Existe uma conta na Caixa Geral de Depósitos do Sabugal, com o n.º 003507020002189880026, onde são depositados os donativos para a reconstrução da capela. Todos quantos quiserem ajudar poderão utiliza-la e assim nos fazerem chegar a vossa ajuda."
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"Como é do conhecimento dos nossos amigos e conterrâneos dos Forcalhos e de todos os que conhecem este canto de Portugal praticamente todas as aldeias do concelho do Sabugal têm uma Capela para fazerem as suas festas e um local onde passar uma tarde entre familiares, ou amigos, como Aldeia Velha com a senhora dos Prazeres, Alfaiates com a festa na Capela da Sacaparte, Soito com a festa da senhora da Granja, etc.
Dentro desta evidencia porque não nós, dos Forcalhos, com a ermida da N. Senhora da Consolação, termos um dia de festa também como eles.
Esta Capela foi mandada construir mais ou menos nos anos de 1500, esteve durante vários anos abandonada em ruínas. Com a ajuda dos nossos amigos dos Forcalhos a sua recuperação iniciou-se e hoje vai tomando forma de Capela apesar de, num passado recente, ter servido de estábulo para animais.
Como sabem a Junta de freguesia de Forcalhos, no ano anterior, ou seja 2005, conseguiu mandar fazer por intermédio do AGRIS um Parque de Merendas, com um grande assador, um belo conjunto de mesas no interior de um telheiro construído para o efeito e outras debaixo dos carvalhos, para se passar uma bela tarde entre amigos.
A Junta de Freguesia está a reconstruir as paredes mais danificadas, que datam dos anos da construção da Capela, ou seja do lado Nascente e do lado Sul. A faltar ficam as paredes do lado Norte e do Poente, o tecto da capela, e muitos outros trabalhos no interior da mesma por não haver dinheiro para continuar os trabalhos.
Só vamos reconstruindo a Capela conforme os donativos que nos vão chegando de alguns amigos. O Presidente da Junta de Freguesia fez um pedido à Câmara Municipal do Sabugal para que fosse colocada a electricidade no local, e, com a ajuda de alguns amigos desta terra, o pedido foi aprovado e teremos a electricidade em breve no nosso Parque de Merendas e na Capela da Consolação.
Mas agora digo eu: - Há tanto dinheiro que é dado por uma Tourada de três ou quatro horas de espectáculo e porque não um pouco, do vosso pouco, para a ajuda da reconstrução da Capela, que é de todos e para toda a vida. Por isso peço a todos a vossa solidariedade para contribuir e ajudar à reconstrução desta obra
Um bocadinho de cada
Faz muito entre todos
Vamos a isto.
Um bem-haja a todos pela vossa ajuda
Um abraço
José Alves
Existe uma conta na Caixa Geral de Depósitos do Sabugal, com o n.º 003507020002189880026, onde são depositados os donativos para a reconstrução da capela. Todos quantos quiserem ajudar poderão utiliza-la e assim nos fazerem chegar a vossa ajuda."
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17 outubro, 2006
171 Os materiais e as construções III
Como estamos em maré de pedras, vai mais este post sobre as ditas, mas com imagens dos Forcalhos.
Dissemos que nos Forcalhos eram muito raras as lajes do tipo das que referimos nos dois últimos posts, em Malhada Sorda e em Nave de Haver. Estas são estreitas e grandes, resultando a sua espessura de veios naturais, muito próximos e paralelos, que facilitam a extracção.
Nas grandes aflorações graníticas dos Forcalhos, em geral, as rochas não têm veios tão juntos e regulares. Por outro lado, entre nós abunda a pedra miúda e multiforme, a pedra solta, fruto da erosão e da actividade humana.
Era mais difícil a extracção de pedras grandes para esquinas de prédios, portas, janelas, escaleiras, balcões, alguns lares, etc.
- Casa velha que foi do ti Gusmão na Rua da Praça. Foto de 2001.
Não é fácil imaginar o trabalho que dava a extracção, o transporte em carros de vacas (por vezes a acamboar), a subdivisão das pedras, o trabalho dos pedreiros para lhe dar a forma pretendida e que, por vezes, lhe dá parecenças com pedaços das lajes referidas nos dois posts anteriores, como em alguns casos de lares (pedras por cima das quais se acendia o lume nas casas de 1º andar), balcões, resguardos dos balcões e pontes, parapeitos de janelas (tudo isto em construções antigas).
Restam-nos testemunhos, ainda actuais, na área da freguesia, de como a extracção de grandes pedras se fazia.
- Vestigios do sistema de corte de pedra em barrocos no Cabeço Nabais. Foto de 1984.
Ao Cabeço Nabais, no caminho para Albergaria, existem barrocos onde se podem observar sinais das técnicas utilizadas pelos nossos antigos pedreiros para cortarem a pedra destinada a casas, palheiros, choços, pontes, fontes, pios, chafariz, escolas, torre, garagem (hoje sede da ARCF), etc. Com macetas e cudadeiras (uma espécie de cunhas espalmadas) aqueles profissionais abriam buracos, segundo um certo alinhamento, nos barrocos. Depois de abertos todos os buracos, metiam-lhes cunhas de ferro e com uma marra, também ela de ferro, iam batendo, sucessivamente, em cada uma das cunhas até o barroco partir pela linha pretendida. Desta forma podiam obter-se pedras maiores ou menores e subdividi-las.
Em alguns casos, os blocos, ao partirem caiam por força da gravidade. Outras vezes, para os fazer deslizar ou rolar, utilizavam-se alavancas de ferro, guilhos, rolos, pancas de madeira e até estadulhos dos carros. Por vezes faziam-se pequenos transportes com recurso a corsas.
- Fotos do mesmo afloramento rochoso, de angulos diferentes, onde são evidentes os vestigios do sistema de corte de pedra em barrocos. Sitos na Barroca, nao longe do talefe. Fotos de 2005.
Como se vê nas fotografias, os buracos foram abertos nos barrocos e estes partiram mesmo. Por qualquer razão não se levou o trabalho até ao fim. Ficou-nos “in loco” um interessante testemunho.
- Foto de cima à esquerda: Lajes naturais na cobertura do choço de Albino Jorge na Malhada do Picote. Foto de 2003.
- Foto de cima à direita: Rua da Quinta, cortelha do ti Barroco. Foto de 1991.
- Foto de baixo: Início da rua do Cemitério, da Travessa do Forno Telheiro e da Travessa do Telheiro. Lajes da cobertura da cortelha do ti Soia, visíveis por trás do poste de iluminação. Foto de 1981.
Raros exemplos de lajes naturais (do tipo apontado nos dois posts anteriores) podem ver-se em lares (lugar onde se acendia o lume) de casas de 1ºandar, em alguns choços, como o que foi do ti Albino Jorge, à Malhada do Picote, e na cobertura da cortelha do ti Soía sita na confluência das Ruas do Cemitério, Rua do Telheiro e Travessa do Telheiro. Duvidamos se as pedras que se notam à entrada da casa que foi do ti Gusmão (primeira foto deste post) são pedra picada e afeiçoada por pedreiros ou se são bocados de lajes do tipo das fotografadas em Nave de Haver ou na Malhada Sorda.
Para melhor esclarecer o que dizemos, nos Forcalhos usa-se o termo laje para designar superfícies graníticas planas, onde até, antigamente, se faziam malhas de centeio. Daí que a nossa amiga Isis no seu comentário aponte a Lajeosa. Nos Forcalhos também há dessas lajes. Contudo utiliza-se o mesmo termo para indicar pedras de dimensão razoável, estreitas por natureza, do tipo das que apontámos em Malhada Sorda e Nave de Haver. Estas placas graníticas naturais é que são raras nos Forcalhos.
CHGJ
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Dissemos que nos Forcalhos eram muito raras as lajes do tipo das que referimos nos dois últimos posts, em Malhada Sorda e em Nave de Haver. Estas são estreitas e grandes, resultando a sua espessura de veios naturais, muito próximos e paralelos, que facilitam a extracção.
Nas grandes aflorações graníticas dos Forcalhos, em geral, as rochas não têm veios tão juntos e regulares. Por outro lado, entre nós abunda a pedra miúda e multiforme, a pedra solta, fruto da erosão e da actividade humana.
Era mais difícil a extracção de pedras grandes para esquinas de prédios, portas, janelas, escaleiras, balcões, alguns lares, etc.
- Casa velha que foi do ti Gusmão na Rua da Praça. Foto de 2001.
Não é fácil imaginar o trabalho que dava a extracção, o transporte em carros de vacas (por vezes a acamboar), a subdivisão das pedras, o trabalho dos pedreiros para lhe dar a forma pretendida e que, por vezes, lhe dá parecenças com pedaços das lajes referidas nos dois posts anteriores, como em alguns casos de lares (pedras por cima das quais se acendia o lume nas casas de 1º andar), balcões, resguardos dos balcões e pontes, parapeitos de janelas (tudo isto em construções antigas).
Restam-nos testemunhos, ainda actuais, na área da freguesia, de como a extracção de grandes pedras se fazia.
- Vestigios do sistema de corte de pedra em barrocos no Cabeço Nabais. Foto de 1984.
Ao Cabeço Nabais, no caminho para Albergaria, existem barrocos onde se podem observar sinais das técnicas utilizadas pelos nossos antigos pedreiros para cortarem a pedra destinada a casas, palheiros, choços, pontes, fontes, pios, chafariz, escolas, torre, garagem (hoje sede da ARCF), etc. Com macetas e cudadeiras (uma espécie de cunhas espalmadas) aqueles profissionais abriam buracos, segundo um certo alinhamento, nos barrocos. Depois de abertos todos os buracos, metiam-lhes cunhas de ferro e com uma marra, também ela de ferro, iam batendo, sucessivamente, em cada uma das cunhas até o barroco partir pela linha pretendida. Desta forma podiam obter-se pedras maiores ou menores e subdividi-las.
Em alguns casos, os blocos, ao partirem caiam por força da gravidade. Outras vezes, para os fazer deslizar ou rolar, utilizavam-se alavancas de ferro, guilhos, rolos, pancas de madeira e até estadulhos dos carros. Por vezes faziam-se pequenos transportes com recurso a corsas.
- Fotos do mesmo afloramento rochoso, de angulos diferentes, onde são evidentes os vestigios do sistema de corte de pedra em barrocos. Sitos na Barroca, nao longe do talefe. Fotos de 2005.
Como se vê nas fotografias, os buracos foram abertos nos barrocos e estes partiram mesmo. Por qualquer razão não se levou o trabalho até ao fim. Ficou-nos “in loco” um interessante testemunho.
- Foto de cima à esquerda: Lajes naturais na cobertura do choço de Albino Jorge na Malhada do Picote. Foto de 2003.
- Foto de cima à direita: Rua da Quinta, cortelha do ti Barroco. Foto de 1991.
- Foto de baixo: Início da rua do Cemitério, da Travessa do Forno Telheiro e da Travessa do Telheiro. Lajes da cobertura da cortelha do ti Soia, visíveis por trás do poste de iluminação. Foto de 1981.
Raros exemplos de lajes naturais (do tipo apontado nos dois posts anteriores) podem ver-se em lares (lugar onde se acendia o lume) de casas de 1ºandar, em alguns choços, como o que foi do ti Albino Jorge, à Malhada do Picote, e na cobertura da cortelha do ti Soía sita na confluência das Ruas do Cemitério, Rua do Telheiro e Travessa do Telheiro. Duvidamos se as pedras que se notam à entrada da casa que foi do ti Gusmão (primeira foto deste post) são pedra picada e afeiçoada por pedreiros ou se são bocados de lajes do tipo das fotografadas em Nave de Haver ou na Malhada Sorda.
Para melhor esclarecer o que dizemos, nos Forcalhos usa-se o termo laje para designar superfícies graníticas planas, onde até, antigamente, se faziam malhas de centeio. Daí que a nossa amiga Isis no seu comentário aponte a Lajeosa. Nos Forcalhos também há dessas lajes. Contudo utiliza-se o mesmo termo para indicar pedras de dimensão razoável, estreitas por natureza, do tipo das que apontámos em Malhada Sorda e Nave de Haver. Estas placas graníticas naturais é que são raras nos Forcalhos.
CHGJ
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