03 março, 2006
115. Pormenores da arquitectura rural
Arquitectura “fingida”

- Casa junto à Praça, no início da rua do Praça que segue para o largo da Fonte. Na fachada rebocada observamos partes de uma arquitectura “fingida”. A outra fachada já foi picada ficando a pedra a amostra.
As casas dos Forcalhos, assim como da região, eram construídas com pedra de granito por ser a mais abundante. As que eram rebocadas existiam em menor número pois a cal e a tinta acrescentavam um custo significativo à construção uma vez que era matéria que se adquiria fora.
É nestas casas rebocadas que encontramos um interessante tratamento dado a pormenores arquitectónicos. Não sei se por uma questão económica ou prática, simulavam-se enfeites e partes de construção através da pintura. Surgem, deste modo, em esquinas molduras com bases e capitéis desenhados, e frisos, também pintados, por debaixo dos beirais.


- Pormenores da casa da foto de cima. À esquerda a base desenhada e à direita o capitel e o friso.
As janelas igualmente eram alvo de um tratamento similar. Pintava-se, a toda a volta, uma moldura como se de cantaria tratasse.

- Janela enquadrada numa moldura pintada. Também desenhada e pintada é a esquina e o friso superior. A casa situa-se na Rua das Casilhas e foi loja de comércio e casa de habitação do Sr. Antero.
São já muito raros os exemplos desta arquitectura visíveis ainda nos Forcalhos e os poucos que subsistem encontram-se ou em mau estado ou já bastante adulterados.
É, também, nas janelas que encontramos o caso mais interessante e surpreendente desta arquitectura “fingida” e, creio, que neste caso por razões simplesmente estéticas. Em algumas fachadas cegas ou desequilibradas acrescentavam uma, ou mais, janelas fingidas, conforme o caso, através de pintura. Era desenhada a moldura e a vidraça de forma a o efeito ser o mais realista possível.
Nos Forcalhos existiam alguns exemplos mas não sobreviveu nenhum, excepto a que está nas traseiras da casa que foi de Carlos Alberto Martins Jorge, na rua das Casilhas. Sobre esta janela foi publicado um artigo no jornal N.F. número 8 de Julho de 1987, pág.12, donde transcrevemos este excerto: “[…] quando recentemente mandou restaurar a sua vivenda não só procurou manter o traçado original, como manteve, precisamente na parede do poente, a janela falsa que lá fora pintada em 1923, numa atitude de respeito por uma tradição que, como as demais, desaparecerá se não houver a preocupação de as preservar.”
São muito escassas as fotos que contêm esta raridade. Nós conseguimos algumas, que publicamos abaixo. Se alguém, no seu acervo fotográfico, encontrar fotos em que sejam visíveis estas janelas e nos fizesse o favor de enviar para o email, noticiasdosforcalhos@gmail.com ficávamos desde já agradecidos.
Na vizinhança só encontrei uma, na Lageosa, mas muito deteriorada.
(Para uma melhor visualização clicar nas imagens)


- À esquerda: Fotograma do filme caseiro de 1976, a que já aludimos no blog AQUI. Observamos em primeiro plano a já desaparecida garagem, onde hoje é a Associação, e em segundo plano a casa que apresenta duas janelas pintadas, uma de cada lado da porta. Tudo o que observa nesta foto já desapareceu.
- À direita: A mesma casa vista do outro lado, do chão confinante com a casa da saudosa tê Inês. De cada lado da porta uma janela pintada. Também do mesmo filme.


- À esquerda: Casa no Largo da Fonte, onde se faz o fogo do Natal. Na fachada da direita, a janela mais afastada é simulada. Com o acrescento de nova construção, onde esteve uma loja comercial, já não é mais observável. Entretanto foi retirado o reboco.
- Á direita: Janela falsa nas traseiras da casa que foi de Carlos Alberto Martins Jorge, na rua das Casilhas. Foto retirada do jornal N.F. número 8 de Julho de 1987.

- Casa na Lageosa, que já foi de forcalhense, onde ainda é visível uma janela pintada, embora muito danificada. Talvez única sobrevivente nos nossos dias porque não encontrei outra na região.
Como se vê, em tempos recuados, ainda não havia Tomás Taveira na capital do país, e já na nossa região se desenhavam elementos em paredes cegas ou, por questões estéticas, se pintavam janelas simétricas.
OJ
.

- Casa junto à Praça, no início da rua do Praça que segue para o largo da Fonte. Na fachada rebocada observamos partes de uma arquitectura “fingida”. A outra fachada já foi picada ficando a pedra a amostra.
As casas dos Forcalhos, assim como da região, eram construídas com pedra de granito por ser a mais abundante. As que eram rebocadas existiam em menor número pois a cal e a tinta acrescentavam um custo significativo à construção uma vez que era matéria que se adquiria fora.
É nestas casas rebocadas que encontramos um interessante tratamento dado a pormenores arquitectónicos. Não sei se por uma questão económica ou prática, simulavam-se enfeites e partes de construção através da pintura. Surgem, deste modo, em esquinas molduras com bases e capitéis desenhados, e frisos, também pintados, por debaixo dos beirais.


- Pormenores da casa da foto de cima. À esquerda a base desenhada e à direita o capitel e o friso.
As janelas igualmente eram alvo de um tratamento similar. Pintava-se, a toda a volta, uma moldura como se de cantaria tratasse.

- Janela enquadrada numa moldura pintada. Também desenhada e pintada é a esquina e o friso superior. A casa situa-se na Rua das Casilhas e foi loja de comércio e casa de habitação do Sr. Antero.
São já muito raros os exemplos desta arquitectura visíveis ainda nos Forcalhos e os poucos que subsistem encontram-se ou em mau estado ou já bastante adulterados.
É, também, nas janelas que encontramos o caso mais interessante e surpreendente desta arquitectura “fingida” e, creio, que neste caso por razões simplesmente estéticas. Em algumas fachadas cegas ou desequilibradas acrescentavam uma, ou mais, janelas fingidas, conforme o caso, através de pintura. Era desenhada a moldura e a vidraça de forma a o efeito ser o mais realista possível.
Nos Forcalhos existiam alguns exemplos mas não sobreviveu nenhum, excepto a que está nas traseiras da casa que foi de Carlos Alberto Martins Jorge, na rua das Casilhas. Sobre esta janela foi publicado um artigo no jornal N.F. número 8 de Julho de 1987, pág.12, donde transcrevemos este excerto: “[…] quando recentemente mandou restaurar a sua vivenda não só procurou manter o traçado original, como manteve, precisamente na parede do poente, a janela falsa que lá fora pintada em 1923, numa atitude de respeito por uma tradição que, como as demais, desaparecerá se não houver a preocupação de as preservar.”
São muito escassas as fotos que contêm esta raridade. Nós conseguimos algumas, que publicamos abaixo. Se alguém, no seu acervo fotográfico, encontrar fotos em que sejam visíveis estas janelas e nos fizesse o favor de enviar para o email, noticiasdosforcalhos@gmail.com ficávamos desde já agradecidos.
Na vizinhança só encontrei uma, na Lageosa, mas muito deteriorada.
(Para uma melhor visualização clicar nas imagens)


- À esquerda: Fotograma do filme caseiro de 1976, a que já aludimos no blog AQUI. Observamos em primeiro plano a já desaparecida garagem, onde hoje é a Associação, e em segundo plano a casa que apresenta duas janelas pintadas, uma de cada lado da porta. Tudo o que observa nesta foto já desapareceu.
- À direita: A mesma casa vista do outro lado, do chão confinante com a casa da saudosa tê Inês. De cada lado da porta uma janela pintada. Também do mesmo filme.


- À esquerda: Casa no Largo da Fonte, onde se faz o fogo do Natal. Na fachada da direita, a janela mais afastada é simulada. Com o acrescento de nova construção, onde esteve uma loja comercial, já não é mais observável. Entretanto foi retirado o reboco.
- Á direita: Janela falsa nas traseiras da casa que foi de Carlos Alberto Martins Jorge, na rua das Casilhas. Foto retirada do jornal N.F. número 8 de Julho de 1987.

- Casa na Lageosa, que já foi de forcalhense, onde ainda é visível uma janela pintada, embora muito danificada. Talvez única sobrevivente nos nossos dias porque não encontrei outra na região.
Como se vê, em tempos recuados, ainda não havia Tomás Taveira na capital do país, e já na nossa região se desenhavam elementos em paredes cegas ou, por questões estéticas, se pintavam janelas simétricas.
OJ
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Comments:
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a melhor arquitectura é, sem dúvida, a rural... já a minha casa é toda de pedras. assim o património e a tradição ficam protegidas! =)
Pois, a minha também é de pedra. Mas a existência de casas com reboco também era tradicional, embora em menor número e pertencentes a famílias mais abastadas.
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