01 março, 2006
113. Associação de Caça e Pesca dos Forcalhos
(continuação do post nº 112. Associação de Caça e Pesca dos Forcalhos )
Parte II



De regresso ao café, onde se tinha combinado encontro, contou-me o Raul, em relação à raposa que caçara:
- Abanavam as silvas e o mato. Espera que é um javali! Nem desviei a arma. Conforme tinha a arma, entrou em mira, atirei. - Mas afinal era raposa. – Ainda acertei ao primeiro tiro e ao segundo deu um grande salto e os cães fizeram o resto.
Como saltara para o mato fechado prá lá ficou.
Marcou-se nova rota, para o Fornito. Mais duas batidas.
Na primeira fiquei outra vez com o Luís, numa porta que era garantido apanhar bicho. Fizemos uma análise ao terreno e era surpreendente a quantidade de marcas de javali, e frescas. Mais uma boa porta para atirar. Animal que ali surgisse era morte certa. A chatear-nos umas vacas que ali pertinho pensariam que trazíamos comida e em nossa direcção vieram. Tivemos de as afastar, através de sinais de braços.
Depois foi uma longa espera. Rebentou uma bomba. De tempos a tempos ouviam-se os berros inconfundíveis do Adérito para afugentar a raposa ou “marrano” para nós. Por vezes os cães também ladravam.
Nós, em silêncio absoluto, praticamente só mexíamos os olhos e, de mansinho, a cabeça, para as variadas direcções. Uns corvos esvoaçaram poisando em cima de uma árvore fazendo constantes barulhos. Indiciava alguma coisa.
Contudo, também não deu em nada.



Mais uma batida.
Desta fiquei só, entre duas portas, escondido num bom bloco de pedra de uma parede. O Manuel João ficou perto, em cima de uns barrocos.
A espera também foi longa e paciente.
Muito se ouvia o Adérito gritar:
- Perro!! Perro!! Marrano!!! Marrano!!! Marrano!!!
Na realidade desta feita ele viu mesmo um javali, ao que parece bastante velho e sabido porque trocou as voltas e não se deixou descobrir mais.
Ainda se pensou em nova batida para o matar, mas a hora de almoço há muito que passara e o pessoal precisava de recuperar energias. Como de costume fomos matar a fome para instalações do Raul.


Neste ritual uma coisa sobressai: o saudável convívio.
Entre os comes e bebes relatam-se as mais variadas estórias, como de caçadas passadas, da emigração, da infância….
O Américo por me ver com a máquina fotográfica contou que, já não sei quem, para os lados da Lageosa, queria matar a raposa mas primeiro tirou uma fotografia. Quando, a seguir, fez a pontaria com a arma já ela tinha fugido. Mas o melhor aconteceu quando revelou a foto: não se via raposa nenhuma.
Na mesa estavam enchidos de que o pessoal, com as suas navalhas, se servia, petiscando ora de um ora de outro.
Nisto percebi que aqui há o uso de subtrair as navalhas aos mais distraídos. Cada um tem de guardar bem a sua para não ficar sem ela. E sobre isso também não faltaram estórias.
Como bons caçadores também não podiam fugir a uma mentirazinha. Às tantas, ouvimos alguém dos nossos ao telemóvel dizer:
- Óh! Nós caçámos quatro javalis.
O Adérito ao ouvir tal logo retorquiu bem alto:
- Mente, mas tanto também não!!!!!!.... Isso até ofende!



As estórias continuam e, a certa altura, alguém surge com o tal malfadado termo “Quinta” que alguns, por desdenho, chamam aos Forcalhos. Mas, na nossa pequenez, alguém levantou a dúvida:
- Não percebo o que temos de tão precioso mas todos nos querem! Os da Aldeia Velha dizem que somos a quinta deles, os da Aldeia da Ponte também, até os de Albergaria e das Casilhas!!!
Realmente somos únicos e quem desdenha quer comprar. Contudo sabemos que não passam de picardias bairristas porque na verdade existe boa vizinhança.
No meio de tamanha festa, alguém descobre uma lata de conserva intacta, do tempo da guerra do ultramar. Uma raridade que o Raul preserva em casa. E como dado curioso é que a lata tem um “fecho” para abrir de lado (parece que antigamente era assim) e não como as de hoje que abrem por cima. Se for como o vinho do Porto, deve estar saborosa.
No final, até o cavalo teve direito a pão. Viva o luxo!
Apesar de não ter visto nem raposa nem javali, foi um dia bem passado, com aventuras e estórias onde prevalece muita camaradagem. Percebo agora bem o gosto pela caça.
Não posso terminar sem deixar um agradecimento especial a todos por me terem recebido de braços abertos.
OJ
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Parte II



De regresso ao café, onde se tinha combinado encontro, contou-me o Raul, em relação à raposa que caçara:
- Abanavam as silvas e o mato. Espera que é um javali! Nem desviei a arma. Conforme tinha a arma, entrou em mira, atirei. - Mas afinal era raposa. – Ainda acertei ao primeiro tiro e ao segundo deu um grande salto e os cães fizeram o resto.
Como saltara para o mato fechado prá lá ficou.
Marcou-se nova rota, para o Fornito. Mais duas batidas.
Na primeira fiquei outra vez com o Luís, numa porta que era garantido apanhar bicho. Fizemos uma análise ao terreno e era surpreendente a quantidade de marcas de javali, e frescas. Mais uma boa porta para atirar. Animal que ali surgisse era morte certa. A chatear-nos umas vacas que ali pertinho pensariam que trazíamos comida e em nossa direcção vieram. Tivemos de as afastar, através de sinais de braços.
Depois foi uma longa espera. Rebentou uma bomba. De tempos a tempos ouviam-se os berros inconfundíveis do Adérito para afugentar a raposa ou “marrano” para nós. Por vezes os cães também ladravam.
Nós, em silêncio absoluto, praticamente só mexíamos os olhos e, de mansinho, a cabeça, para as variadas direcções. Uns corvos esvoaçaram poisando em cima de uma árvore fazendo constantes barulhos. Indiciava alguma coisa.
Contudo, também não deu em nada.



Mais uma batida.
Desta fiquei só, entre duas portas, escondido num bom bloco de pedra de uma parede. O Manuel João ficou perto, em cima de uns barrocos.
A espera também foi longa e paciente.
Muito se ouvia o Adérito gritar:
- Perro!! Perro!! Marrano!!! Marrano!!! Marrano!!!
Na realidade desta feita ele viu mesmo um javali, ao que parece bastante velho e sabido porque trocou as voltas e não se deixou descobrir mais.
Ainda se pensou em nova batida para o matar, mas a hora de almoço há muito que passara e o pessoal precisava de recuperar energias. Como de costume fomos matar a fome para instalações do Raul.


Neste ritual uma coisa sobressai: o saudável convívio.
Entre os comes e bebes relatam-se as mais variadas estórias, como de caçadas passadas, da emigração, da infância….
O Américo por me ver com a máquina fotográfica contou que, já não sei quem, para os lados da Lageosa, queria matar a raposa mas primeiro tirou uma fotografia. Quando, a seguir, fez a pontaria com a arma já ela tinha fugido. Mas o melhor aconteceu quando revelou a foto: não se via raposa nenhuma.
Na mesa estavam enchidos de que o pessoal, com as suas navalhas, se servia, petiscando ora de um ora de outro.
Nisto percebi que aqui há o uso de subtrair as navalhas aos mais distraídos. Cada um tem de guardar bem a sua para não ficar sem ela. E sobre isso também não faltaram estórias.
Como bons caçadores também não podiam fugir a uma mentirazinha. Às tantas, ouvimos alguém dos nossos ao telemóvel dizer:
- Óh! Nós caçámos quatro javalis.
O Adérito ao ouvir tal logo retorquiu bem alto:
- Mente, mas tanto também não!!!!!!.... Isso até ofende!



As estórias continuam e, a certa altura, alguém surge com o tal malfadado termo “Quinta” que alguns, por desdenho, chamam aos Forcalhos. Mas, na nossa pequenez, alguém levantou a dúvida:
- Não percebo o que temos de tão precioso mas todos nos querem! Os da Aldeia Velha dizem que somos a quinta deles, os da Aldeia da Ponte também, até os de Albergaria e das Casilhas!!!
Realmente somos únicos e quem desdenha quer comprar. Contudo sabemos que não passam de picardias bairristas porque na verdade existe boa vizinhança.
No meio de tamanha festa, alguém descobre uma lata de conserva intacta, do tempo da guerra do ultramar. Uma raridade que o Raul preserva em casa. E como dado curioso é que a lata tem um “fecho” para abrir de lado (parece que antigamente era assim) e não como as de hoje que abrem por cima. Se for como o vinho do Porto, deve estar saborosa.
No final, até o cavalo teve direito a pão. Viva o luxo!
Apesar de não ter visto nem raposa nem javali, foi um dia bem passado, com aventuras e estórias onde prevalece muita camaradagem. Percebo agora bem o gosto pela caça.
Não posso terminar sem deixar um agradecimento especial a todos por me terem recebido de braços abertos.
OJ
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Comments:
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Ao ler a descrição da caçada e vendo as fotografias, não fosse o conforto do lar, sentir-me-ia também a participar na própria caçada...tão realista é o relato da mesma e tão bem documentada com belas fotos...
Quem corre por gosto não cansa, mesmo que seja com frio e neve...
Um abraço
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Quem corre por gosto não cansa, mesmo que seja com frio e neve...
Um abraço
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