20 maio, 2006

 

148. Património da nossa terra

Alminhas I












- Alminhas junto à estrada dos Forcalhos para a Aldeia da Ponte.














As alminhas são pequenos monumentos que estão espalhados por todo o Portugal, com maior incidência no centro e norte, como é o caso da nossa região, evocativos do culto dos mortos e da religiosidade popular.
Normalmente estão em caminhos ou encruzilhadas de forma a pedir aos transeuntes uma oração pelas almas do purgatório. Pedido muitas vezes confirmado por legendas gravadas nas próprias alminhas como por ex.:

Lembrai-vos de nós.
P.N.A.M

Ò vós que ides passando
Lembrai-vos de nós que estamos penando.
P.N.A.M

Pelas almas do Purgatório.
Padre Nosso / Avé Maria

Nós passamos e vós zombais
Mas lembrai-vos que em breve como nós sereis.

Ó vós que ides passando
lembrai-vos de nós neste lume penando.

Ó almas que tanto vos enjoais de nos ver!
Pois nós fomos como vós
E vós como nós haveis de ser.

Vós que tende por aqui passais,
Lembrai-vos de nós cada vez mais.










- Três visões diferenciadas sobre as alminhas junto à estrada dos Forcalhos para a Aldeia da Ponte. Na foto da esquerda é visível em primeiro plano o alcatrão da estrada e em segundo o caminho que separa as duas freguesias sendo para a direita da Aldeia da Ponte e para a Esquerda dos Forcalhos.

Esta difusão na arte popular aconteceu após o movimento da Contra-Reforma, século XVI, que valoriza o culto das almas do purgatório. Antes basicamente só se rezava pelas almas dos defuntos, costume incentivado pelo II Concilio de Lião (1274) e o Concilio de Florença (1439).
O Concílio de Trento lembrou aos fiéis que o purgatório existe e que as almas detidas nele podem beneficiar dos sufrágios dos que ainda vivem.
Tais recomendações encontraram campo fértil no nosso povo, comprovado pela proliferação deste tipo de monumentos. Contudo, aqueles que têm gravado a data da sua construção, por norma, não retrocedem muito para além do século XIX.

São vários os motivos para a construção das alminhas como o recordar de um acontecimento trágico (acidente, atentado, …), ou o agradecer de uma graça recebida.
Nestas construções existe um espaço em forma de nicho onde era pintada a representação das almas no purgatório, e daí o nome alminhas. É claro que em muitas essa pintura já desapareceu e mantém-se unicamente o nicho, como é o caso desta dos Forcalhos.
A representação é constituída por chamas ardentes no seio das quais os condenados purificam as suas almas. Estes estão desnudados, cobertos pelas chamas até à cintura, e com os braços erguidos em prece implorando a misericórdia divina.







- As mesmas alminhas, de noite e de dia.









Depois desta introdução avançamos sobre as alminhas das fotos. Estas encontram-se perto da estrada dos Forcalhos para a Aldeia da Ponte, num pequeno largo onde entronca um caminho com direcção à ribeira e que delimita as duas freguesias, estando as alminhas encostadas à parede do lado dos Forcalhos. Como no final deste caminho, já no outro lado da ribeira, se encontram análogas alminhas com mesma data, este facto leva-nos a deduzir que para além de um fim religioso também servia como demarcação dos limites dos Forcalhos.

Esta obra em prol das alminhas que observamos nas fotos é do tipo padrão, de uma só laje de granito, de cantaria com algum labor e bastante harmoniosa. Por cima do nicho está lavrada uma cruz com a singularidade de existirem dois rostos, um de cada lado da cruz que, depreendo, correspondem ao bom e ao mau ladrão crucificados com Jesus.
Por debaixo do nicho encontramos símbolos da crucificação e mais abaixo uma inscrição que na nossa leitura depreendemos ser o seguinte:

ANO 1889
LEMBRAI
VOS DE NOS
P.N. AVE M.






- Pormenor das alminhas com a inscrição que se encontra na base. O avivado a vermelho corresponde à leitura por nós deduzida. Foi efectuado através de software, e não directamente sobre o monumento, situação que é desaconselhada sobre risco de danificar ainda mais a já difícil leitura.







Contudo deixamos o repto para confirmarem, ou emendarem, se for caso disso, a nossa leitura. Para isso publicamos duas fotos, uma tirada de dia e outra de noite. A de noite foi iluminada pelos faróis de automóvel, e creio ser mais esclarecedora. Para uma visão mais ampliada clicar nas fotos.















- Pormenor da inscrição que se encontra nas alminhas. Na esquerda foto tirada de dia, com luz natural. Na direita foto tirada de noite, com a luz dos faróis de um automóvel com incidência relativamente lateral.

OJ

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Comments:
Ainda bem que nao apareceu lá o Oblelix ;-)
 
Marco, espera só pelo próximo post que aparecerá um Obélix lusitano.
 
Na minha modesta opiniao, o meu amigo usando a tecnica de luz razante, conseguiu ler aquilo que tambem eu leria, de facto a minha leitura seria precisamente a sua. Devo acrescentar, que sao umas alminhas muito interessantes e repletas de simbologia da paixao de Cristo.
Os meus parabens e cuidem-as, pois com os roubos que se noticiam de pedras antigas nunca se sabe.
Eu tambem tenho por habito, de dar a localizacao dos varios monumentos, mas nem sei se sera uma boa ideia.
 
Já estou a termer lol
 
Al Cardoso, obrigado pela opinião.
Também eu espero que o roubo de património nunca se verifique para estes lados. Pelo menos há duas coisas a favor destas alminhas: o excessivo peso e o facto de ser uma estrada com movimento de pessoas destas aldeias que assim servem de vigias.

Quanto ao facto de desvendar a localização do património normalmente jogo com alguns cuidados. Quando a possibilidade de roubo é mínima, por factores vários como o peso, o local ser protegido, etc, pois dou indicação do seu sítio. Caso essas condicionantes não existam e o seu furto seja uma realidade muito fácil limito-me a publicitar a sua existência mas oculto a localização ou induzo para uma localização generalista.

Marco, já pareces uma gelatina.
 
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