12 setembro, 2005

 

44. Capeia arraiana?

Um dos acontecimentos das freguesias raianas (ou arraianas, que é o mesmo) do concelho do Sabugal, consistia (e consiste) na capeia. Falávamos nós, quando era criança e jovem, só em “capeia”, sem lhe juntar o qualificativo, hoje em voga, de raiana ou arraiana.
Curiosamente, verifiquei que, nos comentários vistos no "Livro das visitas" no site “Aldeiadaponte.com” AQUI, a propósito do Festival “Ó forcão, rapazes”, que se realizou, em 2005, no Soito, se discute o significado de “raia”, já que, segundo aí se diz, a raia vai do Minho ao Algarve. Alguns destes comentários têm certa piada e outros assumem características insultuosas.

Já o nosso associado e saudoso Carlos Alberto Martins Jorge se insurgia contra o adjectivo “raiana” ou “arraiana” que se juntava ao substantivo “capeia”, para caracterizar a nossa conhecida festa com gado bravo e forcão.
Tomando partido na discussão do que para nós seja a “raia” devo dizer, liminarmente, que o significado será diferente consoante o ponto de vista de onde partimos. É certo que a raia que divide Portugal e Espanha é muito extensa. Contudo, muitas vezes, e legitimamente, situamo-nos, apenas, no concelho do Sabugal e, aqui, para nós, a raia é muito mais limitada.

Recordo a este propósito um pequeno episódio ocorrido com meu pai, que foi regedor dos Forcalhos durante bastantes anos. Em determinada altura, foi ele, com colegas de outras freguesias, a uma reunião na Câmara do Sabugal. Regressou a casa de “carreira” (autocarro da Viúva Monteiro) com outros regedores de freguesias próximas. Junto a Alfaiates houve, ou esteve para haver um acidente, que meu pai me descreveu, acrescentando que o regedor duma das aldeias comentava: “ Ia a raia ficando sem regedores!”. Para este senhor, como para a generalidade dos residentes no concelho, a “raia” correspondia à fronteira do leste do concelho ou às freguesias fronteiriças do leste do concelho do Sabugal.
Eu próprio sempre assim o entendi.























Portanto, se nos situarmos num contexto amplo, supra concelhio, quando se trata de caracterizar as nossas capeias, julgo que, em vez de capeia arraiana, se deveria dizer capeia com forcão, pois é este que as caracteriza.
Também o que muitos não consideram é que do lado de lá da raia, em aldeias espanholas, há, tradicionalmente, “capeas”, mas sem forcão. Eu mesmo, ainda jovem em 1957, no dia 27 de Julho assisti a uma em Albergaria e no dia 25 desse mês tinha assistido a outra, nas Casilhas, na praça principal, tapada com carretas, onde nos subiamos. Aí vi morrer um toureiro espanhol. Nas Casilhas a “capea” realiza-se no dia 15 de Agosto, conforme se anuncia neste site que todos poderão ver: AQUI.

CHGJ

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Comments:
Muito interessante!
 
Sobre a palavra TRANSCUDANO consegui esta resposta no Site CIBERDÚVIDAS DA LÍNGUA PORTUGUESA Pergunta/Resposta
Sou natural do concelho de Sabugal. Tenho lido em algumas publicações a palavra transcudano. Gostaria de saber o significado exa(c)to desse termo e se se poderá usar a expressão «raia transcudana» para designar a faixa da zona raiana na qual o concelho de Sabugal se insere, sabendo nós que o rio Côa (Cuda) nasce no mesmo concelho.

João Manuel Aristides Duarte
Professor
Portugal
Transcudano como adjectivo é relativo a Riba Côa, e como substantivo é natural ou habitante de Riba Côa. No plural designa povo antigo da Lusitânia.

F. V. P. da Fonseca
26/09/2005
 
Efectivamente, pode falar-se em raia transcudana. Simplesmente, entre nós (eu sou forcalhense) quando se fala em raia tem-se em mente uma zona mais restrita, correspondendo, mais ou menos, ao leste do concelho do Sabugal. A raia transcudana ultrapassa estes limites.
As ligações para o sul das serras do sistema Luso-Castelhano são menos intensas e as ligações com as populações a norte de Aldeia da Ponte ou a norte da zona fronteiriça do concelho do Sabugal começam, também, a ser menos intensas e a distância entre as aldeias fronteiriças aumenta. Por isso o nosso alcance (limitado) de “raia”.
Pessoalmente, situando-me no concelho do Sabugal, entendo que ao falar na raia se tem em conta o leste do concelho, próximo da fronteira com a Espanha. Admito que outros pensem de forma diferente.
 
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