05 setembro, 2005

 

40. Serra das Mesas / Serra da Malcata

Desde criança, já lá vão mais de sessenta anos, da casa de meus avôs e, depois de meus pais, sempre me apontaram para as várias serras que ficam para os lados do sul. Quando “andava o burro na serra” ou seja, quando as nuvens cobriam a parte superior da Serra de Xalma, e quando o vento vinha dali, era sinal de que iria chover. Mais para a direita, ficava a Serra das Mesas.
Vários conhecidos, especialmente dos Fóios, que até já me pediram para os ajudar na sua cruzada, estão contra o pretendido esquecimento em que se quer fazer mergulhar a Serra das Mesas que (até) aparece rebaptizada de Serra da Malcata. Sem estudar este assunto, compulsando apenas elementos disponíveis em casa, parece-me que eles têm razão.

Não vou repetir tudo o que escrevi no jornal NF, mas sempre adiantarei que o pároco de Malcata, em 1758, nas chamadas Memórias Paroquiais, não refere nenhuma Serra da Malcata mas apenas a Serra das Mesas. O pároco dos Fóios escreveu então: "Chama-se a Serra das Mezas porque no princípio della se findam e batem coatro bispados dois deste reyno de Portugal que vem a ser este da cidade de Lamego, e outro da cidade da Goarda, e dois do reyno de Castella que vem a ser o de Cidade Rodrigo e o da Cidade de Cória. [...] Tem seu principio na Estremadura deste reyno com o de Castella daqui meia legoa para a parte do nascente. Corre toda a Estremadura adiante, dentro deste lemite tem huma legoa de largura e outra de comprimento aonde finda nam tenho a certeza."

(Para melhor visualização clicar na imagem. )






















Cartoon por Sérgio José das Neves Vieira, publicado no jornal NF n.º44 de Junho de 2005.

Para se tomar consciência da confusão reinante, constata-se que em várias publicações, embora se fale da Serra de Malcata, considera-se esta num plano muito inferior ao da Serra das Mesas, esclarecendo-se que a Serra da Malcata é uma ramificação da das Mesas e que a Serra das Mesas se prolonga até à Guarda (“Dicionário Corográfico de Portugal Continental e Insular”, Américo Costa, Vol. VII, pág. 1237; Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira…)
Entre outros que dão primazia à Serra das Mesas, veja-se o ilustre geógrafo Carlos Alberto Marques, de Vale de Espinho, em “Bacia Hidrográfica do Côa, edição da Assírio e Alvim, 1995, págs. 26 e 27.
No compêndio de Geografia do nosso 5º ano do Liceu lia-se: "... distribui-se o sistema Luso-Castelhano, a massa orográfica mais imponente do território nacional, com disposição NE-SW. Entra no nosso país pela Serra das Mesas e avança até às planícies da Beira Litoral. Estrela, Gardunha, Mesas, Penha Garcia, Alvelos, Muradal e Lousã são as serras que o constituem em Portugal."

Nos últimos tempos, porém, a designação de Serra da Malcata abafa, por completo, suprime mesmo, a de Serra das Mesas. Neste sentido surge a Reserva Natural da Serra da Malcata e suas publicações bem como a generalidade dos mapas que aparece no mercado, a começar, se bem interpreto, pelo “Mapa de Estradas de Portugal Continental, do Instituto Geográfico do Exército. Não haverá para aí entidade competente para sanear esta situação?

CHGJ

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Comments:
Parabéns Forcalhos pelo blog.
Como raiano, agradeço ao seu administrador a disponibilidade e a generosidade de partilhar com todos as suas competências, interesses e saberes.
 
Por acaso tem toda a razão, quanto ao raciocínio exposto, dado que as pessoas mais idosas da aldeia onde passeia a minha adolescência, referiam-se a essa serra como a serra das Mezas.
 
Refiro-se a uma aldeia limítrofe ao concelho do Sabugal (Miuzela).
Quando era pequeno, na escola primária, a professora perguntava: «Onde nasce o rio Côa?» e nós tinha-mos que responder «Nasce na Serra das Mezas». No entanto, sempre fiquei com a ideia, que esta serra consistia na parte mas a nordeste do maciço da Serra da Malcata. Pois, da Miuzela, entre a Serra da Malcata e a Sierra de Gata, surge outra Serra, nitidamente individualizada. Sempre supus que fosse essa a Serra das Mesas ...
A propósito, junto da Sierra de Gata (a Sul) existe, a Sierra de las Mesas Altas.
José Alexandre, Geógrafo
 
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