14 agosto, 2005

 

28. Assentos invulgares.

As lutas entre liberais (partidários de D. Pedro) e absolutistas (que apoiavam D. Miguel) tiveram largas repercussões em todos os domínios da vida portuguesa. A Igreja não podia escapar. Parte do clero teve intervenção activa e tomou partido por um e por outro lado. Consequentemente, viu-se perseguido por uns e por outros, conforme os alinhamentos e as sucessivas vitórias e derrotas.

Na altura pertencíamos à diocese de Pinhel e o bispo da diocese tomou o partido de D. Miguel. Apostou no cavalo errado, como sói dizer-se, e por isso, teve de fugir. O desgraçado, depois de morrer, teve de ser enterrado às escondidas, de noite, segundo diz Fortunato de Almeida. A diocese não voltou a ter bispo, apenas governadores, ate a sua extinção.

Com a perseguição ao clero por parte de absolutistas mas, principalmente, por parte dos liberais que saíram vencedores, com certas medidas tomadas por estes, com a extinção das ordens religiosas, com a perda de regalias, com a vacância de sedes episcopais, com dificuldades de funcionamento dos seminários para formar novos sacerdotes, a igreja atravessou uma grave crise.

Compreende-se que, neste contexto, na zona fronteiriça, os Forcalhos recebessem apoio de sacerdotes espanhóis: D. Clemente Gomez, D. António Garcia {de Albergueria de Argañan e que, como capelão, chegou a residir nos Forcalhos}, D. Pedro Tavares Delgado e um outro sacerdote que até chegou a ser, mesmo, nosso pároco: D. Melchor Lorenzo. São interessantes os assentos dos baptismos que eles lavraram em espanhol com um ou outro termo português à mistura. De Dom Melchor Lorenzo, como nosso pároco, ficaram-nos assentos desde 24-05-1840 até 06-06-1842. Por razões que desconhecemos, segue-se um período em que ele deixa de intervir. Neste intervalo aparece o Padre João de Matos, natural de Aldeia da Ponte, ao que parece também guerrilheiro naqueles conturbados tempos e que, intitulando-se apenas Padre e sem invocar quaisquer outros títulos, fossem os de cura, capelão ou pároco, oficia e assina os baptismos desde 12-10-1842 até 27-09-1843. A seguir, reaparece o nosso pároco espanhol, D. Melchor Lorenzo, a baptisar e a lavrar os respectivos termos, em espanhol, desde 19-03-1844 até 08-06-1845. Reproduzimos uma página com dois destes interessantes assentos. O primeiro é de um antepassado do autor deste post.




































Como nota acrescenta-se que, nos últimos tempos, a colaboração de sacerdotes espanhóis se voltou a acentuar nestas aldeias fronteiriças de primeira linha, isto é, confinantes com a fronteira, por falta de padres portugueses que chegam a ter a seu cargo, individualmente 6 e mais paróquias. Ainda não há muito, o autor deste post assistiu, nos Forcalhos, a uma missa dominical celebrada por Dom Angel, então pároco de Navas Frias, Espanha, e que lia e se fazia entender em português com sotaque castelhano, ou, como costuma dizer-se, em “portunhol”.

C.H.G.J.

.
Comments: Enviar um comentário

<< Home
  • This page is powered by Blogger. Isn't yours?