10 agosto, 2005
27. MARCOS FRONTEIRIÇOS
La Albergueria de Argañan, mais simplesmente, para nós, Albergaria, é a aldeia espanhola mais próxima dos Forcalhos. Até há umas décadas íamos lá, a pé, com frequência, pela vereda, que passa ao lado do marco fronteiriço que tem o número 611 ou então, menos vezes, pelo caminho dos carros (de vacas), cruzando, neste caso, a raia junto ao marco nº 613. A pé faz-se o percurso em menos de meia hora.
Na maior parte das vezes os nossos conterrâneos levavam meia dúzia ou uma dúzia de ovos e traziam alimentos, calçado (alpergatas, albarcas, sandálias), ferramentas, peças de pano ou vestuário, e as moças uns perfumezitos, tudo para uso doméstico. Isto, entre nós, não se considerava contrabando. Mesmo assim, de vez em quando, a guarda fiscal ou os carabineiros, para apresentarem serviço, apareciam e tiravam tudo ou apenas parte do que se trazia ou se levava. Contrabando, para nós era o que se passava para vender com lucro. Mesmo assim, como diria um ilustre raiano, o Dr. Leal Freire, num dos títulos de um livro seu: contrabando, delito mas não pecado.
Outras vezes ia-se por prazer, como relata o saudoso Carlos Alberto Martins Jorge, que Deus haja, e na mocidade tinha por companheiros estudantes o Quinhas, o Zé da Vila, o Manel Mariana, o Toneca Amaro, o Carlos Gôrra, o Ulisses de Aldeia Velha e outros:

Na maior parte das vezes os nossos conterrâneos levavam meia dúzia ou uma dúzia de ovos e traziam alimentos, calçado (alpergatas, albarcas, sandálias), ferramentas, peças de pano ou vestuário, e as moças uns perfumezitos, tudo para uso doméstico. Isto, entre nós, não se considerava contrabando. Mesmo assim, de vez em quando, a guarda fiscal ou os carabineiros, para apresentarem serviço, apareciam e tiravam tudo ou apenas parte do que se trazia ou se levava. Contrabando, para nós era o que se passava para vender com lucro. Mesmo assim, como diria um ilustre raiano, o Dr. Leal Freire, num dos títulos de um livro seu: contrabando, delito mas não pecado.
Outras vezes ia-se por prazer, como relata o saudoso Carlos Alberto Martins Jorge, que Deus haja, e na mocidade tinha por companheiros estudantes o Quinhas, o Zé da Vila, o Manel Mariana, o Toneca Amaro, o Carlos Gôrra, o Ulisses de Aldeia Velha e outros:

- Marco 611, em 1968, no lado de Espanha.
… Nos meses do verão aquilo enchia-se. Não havia ainda “Algarves” nem encaminhamentos turísticos e por isso caía lá tudo quanto andava por fora. Os estudantes........
Com certa frequência a malta ia a Albergaria à cata das espanholas fazendo bailes e outras coisas. O regresso era quando era, sempre lá para as tantas da noite. O transpor da raia, no regresso, obedecia a certo ritual. Havia discursos para os quais o marco da fronteira servia de tribuna. O orador teria de usar uma indumentária própria, a condizer com a solenidade do acto. Mas como o acto, embora solene, não tinha pompa, a indumentária também não. Era muito simples. O discurso, a comunicação científica ou lá o que fosse, teria de ser feito em cuecas. O marco da fronteira nº 613, que ainda não foi reformado e lá se conserva com a mesma antiga dignidade, poderia, se falasse, confirmar estes acontecimentos. O teor desses discursos? Bom não havia temas obrigatórios, mas estou em crer que se abordavam em profundidade os grandes problemas duma geração alegre sem problemas.
…
Numa dessas noites, motivado pelo calor da oratória, ou devido ao gesto impetuoso do “arrear das calças” para dar início à perlenga, algumas moedas terão caído dos bolsos do orador sem que este notasse. Finda a discursata, eufórico, o eloquente tribuno só em casa deu pela falta das suas ricas moedas. A notícia correu veloz e o rapazio, manhã cedo ainda, lá foi apressado a caminho da raia na mira de encontrar algumas c’roas… e parece que sim… Eu também lá fui e ainda abichei 25 tostões…”

- Marco 613, em 1984, no lado de Portugal.
Pelas nossas contas o texto acima deve referir-se á década de 1940. Juntamos fotografias do marco n. 611 e 613. Ao Fornito, em vez de marcos a raia estava assinalada com cruzes nos Barrocos das Andorinhas e noutros. Mais recentemente acrescentaram-lhe uns marcos mais pequenos, em cima dos barrocos.

- Marco 627, em 1981, no lado de Espanha.
C.H.G.J.
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